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Extrema-direita no Congresso? Campanha das legislativas arranca em Espanha

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As sondagens dão ao Vox entre 29 e 37 deputados. A questão da independência da Catalunha tem sido o tema central da pré-campanha que tem fomentado a crispação do discurso político.

A campanha eleitoral para as legislativas em Espanha arranca esta sexta-feira. No dia 28 de abril, os espanhóis vão às urnas para decidir quem ocupa o Palácio da Moncloa, depois da legislatura mais turbulenta da História da democracia espanhola.

Nove meses foi o tempo que Pedro Sánchez aguentou à frente do Governo, depois de ter destituído Mariano Rajoy com uma moção de censura na sequência da sentença do caso de corrupção Gurtel, que dava como provada o financiamento ilegal do Partido Popular (PP).

Apoiado num governo instável, que precisava dos votos dos independentistas catalães, Sánchez não conseguiu aprovar o orçamento de Estado. Os independentistas exigiam ao Governo "um gesto" para com os políticos catalães presos pela convocatória do referendo de independência ilegal em outubro de 2017 para viabilizarem o orçamento. Sánchez não cedeu e viu-se obrigado a convocar eleições antecipadas.

Estas legislativas marcam a entrada na política nacional do Vox, o partido de extrema-direita que, segundo as últimas sondagens, poderia conseguir entre 29 e 37 deputados. Se se confirmar este resultado poderia ter a chave de um governo de direita em Espanha. Partido Popular e Ciudadanos já fizeram saber que vão governar juntos, mas o líder dos populares, Pablo Casado, teme uma dispersão do voto à direita e chama à concentração do voto útil no PP.

As sondagens são favoráveis aos socialistas e conferem-lhe a vitória, mas sem uma maioria suficiente para governar. O resultado do Podemos, que tem vindo a descer nos estudos de opinião, é crucial para conseguir um pacto de Governo à esquerda que não inclua os independentistas catalães.

Numa pré-campanha eleitoral marcada pela polarização da sociedade e pelo ambiente de tensão, a questão catalã tem sido usada como arma de arremesso pelos partidos. A direita acusa Sánchez de vender a unidade de Espanha, de querer indultar os políticos presos no caso de serem condenados e de estar disposto negociar um referendo de autodeterminação.

Casado repete que Sánchez é "o presidente mais radical da História da democracia espanhola", e acusa-o de "preferir as mãos manchadas de sangue" (em referencia ao apoio do Bildu, partido do ex-membro do grupo terrorista ETA, Arnaldo Otegi) em vez "das mãos pintadas de branco" (em referencia às vitimas da ETA).

Albert Rivera, líder do Ciudadanos, sublinha que Sánchez "não tem escrúpulos" e que "pactuou com os que tentaram dar um golpe de Estado em Espanha".

Sánchez, por sua vez, lembra que o problema foi criado durante o Governo do PP, que a adesão ao movimento independentista subiu dos 17% aos 50% durante os executivos populares, e nega que a independência da Catalunha tenha estado alguma vez em cima da mesa.

Na última semana, Sánchez resgatou o seu "não é não", que utilizou quando se recusou a viabilizar um Governo do PP em 2016, motivo que o levou a demitir como deputado. "Não é não. Se o PSOE governar não haverá independência na Catalunha, não haverá um referendo pela independência e não se vai partir a Constituição", disse num evento da pré-campanha.

Para o dia 23 de abril está marcado o debate com os cinco candidatos principais. Depois de muita polémica, o Vox foi incluído apesar de ainda não ter assento no Congresso. Para já, este debate será o único que contará com a presença de Pedro Sánchez, que já recusou um cara a cara com qualquer um dos restantes candidatos.

Com uma percentagem de mais de 40% de indecisos, as duas semanas de campanha eleitoral podem ser vitais para inclinar as urnas no próximo 28 de abril.