Europeias 2019

Melo critica os que "arruinaram as contas públicas" e fala de "campanha com fé"

Miguel Pereira da Silva/Lusa (arquivo)

Cabeça de lista do CDS vê uma ligação entre o 13 de maio e o 13.º lugar dos centristas no boletim de voto.

O candidato do CDS às europeias fez hoje um duro ataque ao primeiro-ministro, dramatizou problemas financeiros no futuro e alertou que António Costa pode estar a "sonhar" deixar Portugal para "um destino algures na Europa".

Nuno Melo discursou para mais de 150 militantes e simpatizantes numa churrascaria em Coimbra, devolveu ao PS e a Costa a responsabilidade pela austeridade em Portugal e acusou os socialistas de não aprenderem com os erros do passado, de 2011, que levaram "o país à bancarrota" e à intervenção da "troika" quando José Sócrates era primeiro-ministro.

Exibindo uma imagem de um abraço entre Sócrates e António Costa, Nuno Melo alertou que os centristas não têm memória curta. "Se amanhã lá está o CDS outra vez, a falar de política interna, do Governo e de Sócrates, peço que recordem o óbvio: falamos daquilo que os socialistas que hoje mandar, que são os mesmos que arruinaram as contas públicas até 2011, nos obriguem a falar", atirou.

A fé não ficou à porta deste jantar. Nuno Melo fez notar que, no dia 13 de maio, o CDS constatou que ocupará o 13.º lugar no boletim de voto, algo que o cabeça de lista diz acreditar que não acontece "por acaso".

"O CDS, que faz campanha com fé - eu pelo menos tenho e acredito na providência divina - acredito que com a ajudar de todos, Coimbra a começar, o CDS vai vencer", defendeu.

O eurodeputado e de novo "número um" do CDS nas europeias questionou-se como é que os socialistas têm "o topete" de responsabilizar o CDS, que, com o PSD, governou o país de 2011 a 2015, sob a intervenção da 'troika', quando foi o executivo de direita que honrou "um compromisso deles", e hoje "nem um obrigado são capazes de dizer".

Olhando para a governação de António Costa, afirmou que o PS "não aprende com os erros" e deixou um alerta para o futuro.

"Se nada for feito, infelizmente, o caminho poderá ser esse [o das dificuldades ou crise] e não tem a ver com o Diabo. Por alguma razão o dr. António Costa agora quer ir embora e sonha com um destino algures próximo de Bruxelas. Por alguma razão será", afirmou, numa referência às notícias que dão o líder socialista português como potencial candidato a um cargo europeu, objetivo que o próprio negou.

O empresário Joe Berardo foi tamém, esta noite, um "convidado" ausente do jantar, onde foi alvo de críticas e ironias do "número um" da lista, Nuno Melo, e da vice do partido Cecília Meireles.

Três dias depois de ter dito, a rir, na comissão de inquérito à CGD, no parlamento, que não tinha dívidas, Cecília Meireles, uma das deputadas que interrogou Berardo, afirmou que aquelas afirmações são "uma desfaçatez completa" e "um desrespeito pelos portugueses".

O empresário Berardo foi ainda utilizado pela deputada do CDS para tentar desmontar uma das heranças reclamadas pela "geringonça" (o Governo do PS com o apoio das "esquerdas encostadas"), ou seja resolver "os problemas da banca" e "pôr muito dinheiro dos impostos de todos" nos bancos.

E, tal como Nuno Melo já fizera, apontou ao ex-primeiro-ministro José Sócrates, que o CDS culpa pela "bancarrota do país" em 2011, à frente de um Governo do PS, em que o atual chefe do executivo participou.

"Na origem dos problemas da banca e dos bancos lá encontramos a herança do ex-primeiro-minstro José Sócrates", afirmou, acrescentando que os "créditos mais problemáticos" para a Caixa foram feitos nos anos em que o Governo era chefiado por Sócrates.

Se a coleção Berardo está hoje exposta no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, deve-se a "um protocolo com o Estado", assinado nos tempos de Governo do PS.

"Lá encontramos José Sócrates", afirmou.

Mas António Costa também foi incluído nos ataques da deputada e vice-presidente centrista, dado que esse protocolo foi renovado em 2016, já durante o mandato do atual executivo.

O CDS promete, agora, continuar a fazer perguntas para que o Governo diga se conhecia que as obras da Coleção Berardo "tinham sido usadas para ludibriar os bancos".

A deixa para o discurso de Cecília Meireles tinha sido dada, minutos antes, por Nuno Melo, que, mais uma vez, usou o nome de Sócrates, citando frase de Joe Berardo sobre o antigo secretário-geral do PS.

O eurodeputado leu várias frases de Berardo sobre Sócrates, de 2007, como: "Portugal precisa de um primeiro-ministro como José Sócrates para dar uma reviravolta ao país" ou "Sócrates tentou fazer alguma coisa pelo país, mas foi crucificado."

"Que diríamos nós que pagamos 350 milhões de dívida enquanto Joe Berardo no parlamento, sorri, [e] diz que não deve nada a ninguém", afirmou Nuno Melo.

O empresário madeirense foi ouvido no parlamento na sexta-feira, onde disse que é "claro" que não tem dívidas, e confirmou que a garantia que os bancos têm é da Associação Coleção Berardo, e não das obras de arte.

Joe Berardo esclareceu que a garantia dada à CGD são os títulos da Associação Coleção Berardo e não das obras de arte em si.