Europeias 2019

Geringonça? "Podíamos ter ficado a um canto a lamentar a situação eleitoral"

Nuno Veiga/Lusa

Jerónimo de Sousa recordou a solução governativa encontrada há quatro anos e elogiou o papel do PCP e CDU na mesma.

O secretário-geral comunista sentiu segunda-feira, mais uma vez, a necessidade de justificar a decisão de há quase quatro anos de ter apelado à formação de um Governo minoritário socialista, com apoios à esquerda, reclamando para si esses louros.

Num jantar de mulheres da campanha eleitoral da CDU, em Lisboa, Jerónimo de Sousa discursou meia hora perante a entusiasta plateia de mais de 400 pessoas, divididas pelos dois salões da Casa do Alentejo.

"Podíamos ter ficado a um canto a lamentar a situação eleitoral. Havia até quem considerasse que devíamos ficar quietos e calados, no fundo, para penalizar o povo por ter votado como votou e um pouco com a ideia de quanto pior, melhor", disse o líder comunista, referindo-se à noite eleitoral legislativa de outubro de 2015.

Jerónimo de Sousa sofreu uma falha da voz pelo meio da longa intervenção, resolvida com alguns goles num copo disponível na tribuna e terminada com um improviso bem humorado: "não gosto de meter água".

"Para o PCP e a CDU, a nossa intervenção decisiva naquela noite eleitoral correspondia a um objetivo central: quando um país está pior, o seu povo nunca está melhor, quando o povo está pior, o país não está melhor. Tivemos de vencer resistências e até o baixar de braços do PS, com o Bloco [de Esquerda] a comemorar o bom resultado que teve. A CDU colocou, nessa noite, esta ideia de que era possível uma solução de Governo minoritário do PS", afirmou.

Para o secretário-geral comunista, a CDU é "a grande força que tem estado e está na primeira linha dos combates às desigualdades e injustiças sociais e na luta em defesa do direito de soberania do povo".

"Mas, não servimos de mera sustentação. Dissemos que era preciso avançar, que era possível repor rendimentos e direitos ao nosso povo. Sabíamos que o PS, nalgumas coisas, não estava para aí virado. É verdade, mas nunca desistimos, persistimos neste combate. Hoje pode-se demonstrar que foi acertada e justa a decisão da CDU em conseguir a melhoria das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores e do povo português", garantiu.

Jerónimo de Sousa sublinhou "esta grande força" [CDU], determinada a travar importantíssimos combates eleitorais neste ano de 2019, uma grande oportunidade de abrir caminho a futuro melhor para o país e para os portugueses"

"Com o reforço da CDU, essa força que conta e que decide, como provou nestes quatro anos da nova fase da vida política nacional", insistiu.

Jerónimo foi aguentado o discurso mas, perto do final, a voz falhou mesmo. Da assistência veio uma sugestão: "Beba água!"

O secretário-geral do PCP não estava, no entanto, para aí virado: "A camarada que me desculpe, mas eu não gosto de meter água quando estou a intervir."

O "escândalo" Berardo e a promiscuidade

O secretário-geral do PCP criticou também o "escândalo" da "desfaçatez" do empresário Joe Berardo, apontando à promiscuidade entre poder político e poder económico como raiz do problema da corrupção e perda de milhões de euros do erário público.

"Camaradas, veja-se esse escândalo do Berardo e da sua desfaçatez, que mais não é do que a ponta do icebergue que esconde esse problema maior que mina a sociedade portuguesa e tem origem na promiscuidade entre poder político e poder económico, com o que significa de lastro para a corrupção e justificação para drenar milhares de milhões para a banca e seus negócios obscuros", disse Jerónimo de Sousa.

"Ouvimos muito falar em transparência. Andam aí a duvidar dos políticos e dos partidos. Se esses senhores da transparência estão tão empenhados, procurem aprofundar estes mecanismos, este negócio de milhares de milhões que são roubados ao nosso país e a outros, e travar esta corrupção e confusão entre poder político e poder económico. Querem transparência, combate à fraude e evasão fiscais, então vão lá ao sítio saber como isso se contraria, como se vence", afirmou.

O empresário madeirense Joe Berardo esteve recentemente numa audição na comissão parlamentar de inquérito sobre a recapitalização e gestão da Caixa-Geral de Depósitos, onde afirmou, entre outras coisas, que pessoalmente não devia nada, embora haja dados que estimam um valor em falta a diversas entidades bancárias por parte do também comendador a rondar os mil milhões de euros.

LER MAIS:

- A tragicomédia de Berardo no Parlamento num minuto