Europeias 2019

BE exaltou a importância do feminismo em Coimbra

Paulo Novais/Lusa

Numa noite onde o feminismo esteve sempre presente, Catarina Martins fez um discurso inflamado e emocionado para falar das diveras lutas das mulheres. Na noite de Coimbra, Marisa Martins fez um discurso mais politico para dizer que todos os que fizeram buracos no sistema financeiro devem perder as comendas.

A primeira candidata do BE às eleições europeias, Marisa Matias, considerou hoje que Portugal "está longe de ter uma política pública que realmente proteja o bem-estar animal", contrariamente ao bom trabalho desenvolvido na Europa nesta dimensão.

Ao fim de 1.500 quilómetros nos primeiros três dias oficiais de campanha, a caravana do BE 'estacionou' hoje em Coimbra, distrito-natal da cabeça de lista bloquista, onde Marisa Matias quis dar visibilidade ao trabalho da associação Gatos Urbanos e acabou a ação a alimentar um dos felinos.

"Nós devemos também tentar chamar à atenção para aquilo que de melhor a Europa tem e colocar o bem-estar animal na agenda tem sido uma das dimensões que eu considero ser do melhor da Europa", explicou aos jornalistas, dando o exemplo da imposição europeia sobre normas de transporte que protejam o bem-estar animal.

Em Portugal, na perspetiva de Marisa Matias, a situação é diferente e, "se tem havido melhorias a este respeito, elas têm sido muito por causa da ação de algumas pessoas e de algumas organizações e associações".

"Estamos longe de ter em Portugal uma política pública que realmente proteja o bem-estar animal e a saúde pública porque esta é uma questão também de saúde pública", lamentou.

O objetivo da candidata bloquista com esta visita era reconhecer o trabalho da associação Gatos Urbanos que "começou um trabalho difícil quase do zero e com poucos recursos" e que procura, em grande parte das suas atividades, "aplicar o programa de captura, esterilização e devolução [à rua], que é o que protege melhor o bem-estar dos animais".

"Estas medidas que são necessárias, estas ações que são necessárias, não podem ficar dependentes das ações individuais. É preciso que existam políticas públicas reais que ajudem nestes processos de captura, esterilização, devolução e também apoiar as organizações que estão no local e que fazem este trabalho que é tão importante", apelou.

Já à saída da ação de campanha anterior, uma visita a uma Unidade de Saúde Familiar, Marisa Matias tinha sido questionada pelos jornalistas sobre se o objetivo desta ação era dar "uma mãozinha e uma patinha" ao PAN.

"Nós tivemos muito trabalho e muito intenso a dar uma mãozinha e uma patinha aos animais ao longo deste mandato", respondeu, usando a mesma expressão, depois de uma gargalhada.

A eurodeputada bloquista recordou que o grupo que integra no Parlamento Europeu fez parte de "todas as reivindicações de defesa dos direitos dos animais", sendo este um dos valores que é de sempre e que será mantido no centro da agenda.

"O BE foi o primeiro partido que, em Portugal, trouxe a questão da defesa dos direitos dos animais ao parlamento nacional. Fê-lo, na altura, com um proposta sobre animais de circo e a necessidade de protegê-los", lembrou.

Questionada sobre se temia o PAN nestas eleições, Marisa Matias respondeu que não porque o BE tem "feito trabalho nessa área" e continuará a fazer.

Já a coordenadora do BE, Catarina Martins considerou, na quinta-feira, que o facto de, em 17 cabeças de lista às europeias, a única mulher ser a candidata bloquista prova que o feminismo ainda é preciso e que há direitos por conquistar.

Catarina Martins subiu na quinta-feira à noite ao palco, em Coimbra, no comício para as europeias, para falar de mulheres, de igualdade e dos seus direitos, lembrando que se morre "por ser mulher em Portugal, na Europa e no mundo" e que, por isso mesmo, "uma agenda feminista não é coisa pouca, é todo um programa de direitos humanos".

"E quando alguém disser que o feminismo já não é preciso ou que os direitos já estão todos conquistados, que olhe para esta campanha, que olhe para estas eleições europeias: 17 cabeças de lista e só há uma mulher", lamentou.

Na perspetiva da líder bloquista essa mulher "felizmente é a Marisa Matias, que tem estado sempre onde é preciso".

"No dia 26 de maio, as mulheres que se levantam por direitos, os homens que se levantam por igualdade, todas as pessoas que dizem que já chega, que não aceitamos mais a desigualdade, nem a violência, que queremos o respeito no lugar da humilhação, que a dignidade é o que combina com toda a gente, é esta gente que se levanta, que no dia 26 vai votar e sabe que é o voto no Bloco, que é o voto na Marisa Matias que vai fazer toda a diferença", apelou, no final de um discurso inflamado e emocionado.

As mulheres da Sioux, da Triumph, as mulheres precárias, desempregadas, as amas, as ajudantes familiares, as mulheres que trabalham na limpeza, as cuidadoras informais ou as mulheres que "arriscam pôr os filhos no mar porque a terra é tão perigosa" foram alguns dos exemplos que Catarina Martins deixou, garantindo que o Bloco está sempre do lado destas lutas.

Na noite em que María Eugenia Palop, do espanhol Unidas Podemos, falou das "mulheres incansáveis" que são Catarina Martins e Marisa Matias e das lutas dos dois partidos por uma "Europa igualitária, alternativa a todos os Salvini, Merkel e Macron", foi o discurso do 10.º da lista do BE às europeias, Amílcar Morais, que 'roubou' as atenções.

Amílcar Morais é surdo e começou o discurso usando apenas língua gestual portuguesa, ainda sem tradução, para mostrar a discriminação que os surdos sentem.

"Continuamos a sentir-nos menos pessoas do que as outras pessoas", lamentou, dando os exemplos da violência doméstica, situações de emergência médica ou dificuldades de acessibilidade no Serviço Nacional de Saúde.

Depois da música de Jorge Palma, o mandatário nacional da candidatura de Marisa Matias, António Capelo, falou de uma "campanha de coração quente" e disse que daqui "a pouco mais de uma semana é preciso ir a votos".

"Eles estão com medo desta maré que se está a levantar e vai rebentar na maré no dia 26. Vamos todos sem falta votar pelo nosso futuro", apelou.