Lusa

Candidato do poder proclamado eleito na primeira volta das presidenciais na Mauritânia

Nouakchott, 01 jul 2019 (Lusa) -- O candidato do poder, Mohamed Cheikh El-Ghazouani, foi hoje proclamado eleito na primeira volta das presidenciais na Mauritânia pelo Conselho constitucional, que anunciou ter rejeitado os recursos da oposição por "insuficiência de provas".

Com 52% dos sufrágios expressos, El-Ghazouani "recolheu a maioria absoluta" na primeira volta das eleições, a 22 de junho, segundo a decisão divulgada por um dos nove membros do Conselho. No dia 02 de agosto deve suceder ao Presidente cessante Mohamed Ould Abdel Aziz.

Segundo o presidente do Conselho constitucional, Bathia Mamadou Diallo, "o sistema eleitoral na Mauritânia melhorou bastante" e "melhora a cada eleição". Estes resultados foram estabelecidos na base dos processos verbais transmitidos ao Conselho por "magistrados", sublinhou.

Diveros veículos militares estavam estacionados junto ao Conselho após a divulgação dos resultados pela Comissão nacional eleitoral independente (Ceni).

A algumas horas da proclamação dos resultados definitivos, os quatro candidatos da oposição denunciaram diversas "fraudes" que na sua perspetiva impossibilitam a anunciada vitória do antigo chefe de estado-maior, e um fiel companheiro de armas de Abdel Aziz.

O escrutínio deverá assinalar a primeira transição entre dois presidentes eleitos neste vasto país do Sahel, que registou numerosos golpes de Estado entre 1978 e 2008, a data da rebelião militar que levou Mohamed Ould Abdel Aziz ao poder, antes da sua eleição em 2009. De acordo com a Constituição, apenas podia apresentar-se a dois mandatos.

Os resultados da Ceni confirmaram a vitória de El-Ghazouani face aos quatro opositores, incluindo o militante antiesclavagista Biram Ould Dah Ould Abeid (18,58%), o ex-primeiro-ministro Sidi Mohamed Ould Boubacar (17,87%) e o jornalista Baba Hamidou Kane (8,71%).

"Após verificação pelos nossos técnicos eleitorais que analisaram 455 assembleias de voto [num total de 3.861] o candidato Ghazouani não podia ter obtido mais de 41%", afirmou em conferência de imprensa na noite de domingo Ould Abeid, com os três outros candidatos da oposição.

"Todas estas assembleias de voto estão situadas em zonas recuadas, instaladas em regiões de dignitários do regime em contradição com a lei, longe de qualquer possibilidade de controlo, totalizando mais de 9.800 votos, ou seja 10% do voto global", acrescentou, para considerar que Ghazouani poderá ter obtido "48,5% no melhor dos casos".

Os candidatos da oposição também denunciaram a "repressão" no decurso do processo eleitoral, que disseram ser dirigida à comunidade afro-mauritana, após os tumultos que eclodiram um dia após a votação de 22 de junho.

Apelaram à "desmilitarização" dos bairros dos arredores de Nouakchott, onde as forças de segurança estão presentes desde os incidentes, e à libertação dos simpatizantes detidos.

A sociedade mauritana é assinalada por persistentes disparidades entre as comunidades árabe-berbere, haratin (descendentes dos escravos dos donos árabe-berberes, com quem partilham as tradições culturais) e afro-mauritanos, geralmente com a língua materna de etnias sub-saarinas.

As autoridades não forneceram estimativas das pessoas detidas, diversas centenas de acordo com a agência noticiosa AFP, mas na semana passada admitiram que uma centena de naturais de país vizinhos da África sub-saariana, designadamente senegaleses e malianos, estavam detidos.

El-Ghazouani, que já foi felicitado por diversos países (França, Marrocos, Argélia, Mali, Arábia Saudita, entre outros), saudou na sexta-feira o povo mauritano "pela sua maturidade política e o enraizamento do pluralismo democrático e do diálogo", durante o processo eleitoral.

Mohamed Ould Abdel Aziz estabilizou a Mauritânia, atingida na década de 2000 por atentados 'jihadistas' e sequestros de estrangeiros, ao estabelecer uma política voluntarista, incluindo o reforço dos recursos militares, reforço da vigilância do território e desenvolvimento das zonas do interior.

As principais críticas aos seus dois mandatos centram-se na persistência de profundas desigualdades sociais e na denúncia de atentados às liberdades públicas.