São Paulo, 01 jul 2019 (Lusa) - Cerca de 10 mil garimpeiros terão invadido o território indígena Yanomami, na região amazónica do Brasil, onde atuam ilegalmente e poluem os rios com mercúrio, alertou um comunicado distribuído hoje pela organização Survival International.
A organização não-governamental (ONG) destacou que o fluxo intenso de invasores foi detetado por líderes indígenas, que dizem que os garimpeiros estão a construir, de forma ilegal, assentamentos e pistas de pouso, encorajados pelos discursos do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que apoia a invasão de reservas e faz ataques frequentes aos povos indígenas.
O diretor da Survival International, Stephen Corry, avaliou que "o racismo do [Presidente] Bolsonaro tem consequências trágicas como a corrida do ouro em curso no norte do país, que é apenas uma delas".
"[O garimpo] está devastando o povo Yanomami, que foi atacado e massacrado há 30 anos durante a última febre do ouro na região. Bolsonaro está satisfeito em ver pessoas morrerem e a floresta ser destruída. Apenas o clamor público no Brasil e do mundo pode detê-lo", acrescentou Corry.
Relatos de indígenas que chegaram à ONG indicam que alguns garimpos ilegais estão localizados a poucos quilómetros das aldeias onde vivem indígenas isolados, ou seja, que nunca tiveram contacto com o homem branco.
"Apesar de muitos [índios] Yanomami terem contacto com a sociedade não-indígena, sabemos que pelo menos um grupo de indígenas isolados vive na área invadida, e as autoridades estão a investigar rastos que indicam que até seis outros grupos de Yanomami isolados vivam na mesma região", frisou a ONG.
A associação Hutukara, do povo Yanomami, estima que a quantidade de garimpeiros vivendo ilegalmente na reserva seja de 10 mil indivíduos, que têm causado uma grande devastação dos rios e florestas de onde os indígenas retiram caça e peixes de que dependem para sobreviver.
Cerca de 35.000 indígenas Yanomami ocupam os dois lados da fronteira entre o Brasil e Venezuela.
A ONG lembrou que cerca de 20% da população Yanomami do lado brasileiro da fronteira morreu de doenças trazidas pelos garimpeiros durante a corrida do ouro na região que ocorreu no final da década de 1980 e começo dos anos 1990.
Após uma longa campanha internacional a terra indígena dos povos Yanomami foi finalmente demarcada em 1992.
Os territórios Yanomami do Brasil e da Venezuela juntos formam a maior terra indígena coberta por floresta de todo o mundo.