Secretário-geral socialista defende que "é melhor não estragar uma boa amizade com um mau casamento".
O secretário-geral do PS, António Costa, afastou esta quinta-feira a hipótese de formar uma coligação formal com os partidos à esquerda após as eleições legislativas de outubro.
Em entrevista à TVI24, Costa lembrou que "é melhor não estragar uma boa amizade com um mau casamento" e afastou um cenário de coligação à esquerda, admitindo a formação de um governo minoritário.
Costa considera que "as coisas têm corrido bem" sob a atual solução governativa e admite mesmo ter "muitas dúvidas" que corressem melhor "de outra maneira".
"Uma das chaves da estabilidade desta situação política foi cada um ter respeitado bem a sua identidade, termo-nos entendido sobre o que fazíamos em conjunto, mas também deixar claro quais as matérias em que não havia entendimento possível", destacou o primeiro-ministro.
"Estou convencido de que se tivéssemos feito uma coligação formal com ministros do PEV, PCP, BE e PS se calhar a solução teria sido menos estável do que a que tivemos."
"Se o Governo fosse de coligação, havia muitas decisões que o PCP e o BE não podiam ter aceitado", destacou Costa, analisando a interação entre os partidos. Sobre o papel do PS, identifica o partido como "o fator de equilíbrio" que permitiu que a chamada Geringonça resultasse de forma positiva.
Maioria(s) absoluta(s)? "Portugueses não gostam"
"Os cidadãos é que definem as condições que cada líder partidário tem para trabalhar", ressalvou o secretário-geral questionado sobre os cenários que pode ter de enfrentar para formar um futuro Governo, caso reúna votos suficientes para tal.
"Nunca pedi maioria absoluta porque acho que não é uma coisa que se peça", garantiu o secretário-geral socialista, questionado sobre um hipotético reposicionamento político do PS e um afastamento do BE. "Nunca farei qualquer chantagem relativamente aos portugueses para dizer que só governo nestas ou naquelas condições."
António Costa foi mesmo mais longe: "Eu não tenho dúvidas nenhumas de que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. Têm más memórias das maiorias absolutas, sejam do PSD, sejam do PS. Não vou dizer se é justo ou injusto, é assim. Não gostam e têm muitos receios."
Museu Salazar
Sobre a possível criação de um possível Museu Salazar, António Costa explica que ainda não se pronunciou sobre o tema por ainda não ter entendido qual o significado do mesmo.
"Se é um museu de apologia de Salazar, de desculpabilização de Salazar, obviamente sou contra e acho que é inaceitável. Se é um centro de interpretação e de contextualização do que foi um período da nossa história, pode ser que seja útil e favorável."
O secretário-geral do PS ainda não falou com o autarca de Santa Comba Dão - o socialista Leonel Gouveia - e assegura que o fará assim que tiver oportunidade de modo a informar-se sobre o projeto. Mas deixa uma ressalva: "Conhecendo o presidente da câmara, ficaria muito surpreendido que o museu fosse o que muita gente pressupõe que é."
País mais preparado para uma crise
"A devolução de rendimentos foi crucial para devolver confiança aos portugueses", considerou Costa, reforçando uma ideia que já tinha sido deixada por Centeno, de que Portugal está hoje mais preparado para uma crise do que estava aquando do início da última.
Precisamente sobre o futuro do ministro das Finanças, Costa diz que não o questionou nesse sentido, mas garante que caso "os portugueses permitam formar Governo", falará com Centeno sobre esse assunto. "Não tenho razões para duvidar de que se mantém disponível para a governação", rematou.
O primeiro-ministro comprometeu-se a não cortar nos rendimentos dos portugueses nem a aumentar impostos em caso de nova crise económica e nunca respondeu se, em caso de crise, estaria disposto a deixar aumentar o défice, mas assegurou que o cenário macroeconómico que consta do programa eleitoral do PS "é conservador".
"Temos de manter a estabilidade que conseguimos nesta legislatura, nunca dando o passo maior que a perna para não nos colocarmos em situação de risco", afirmou.
António Costa não se quis comprometer com uma meta para o aumento do salário mínimo na próxima legislatura, mas defendeu que, se vencer as eleições, esse tema seja definido logo no início da legislatura em sede de concertação social.
Notícia atualizada às 10h41 de 29 de agosto de 2019, com correção do nome do autarca de Santa Comba Dão