Política

A canção de um partido sem hinos

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O Bloco de Esquerda tem origem numa coligação formada em 1999 por três partidos do espetro mais à esquerda da vida política portuguesa: UDP, PSR e Política XXI.

É a primeira organização política não saída diretamente do contexto político da revolução do 25 de Abril de 1974 a conseguir estar seis mandatos seguidos no Parlamento com um grupo de deputados significativo.

Antes disso houve o PRD, inspirado pelo general Ramalho Eanes, mas só durou, no Parlamento, de 1985 até 1991, apenas dois mandatos.

O Bloco não tem hino. Nos estatutos do movimento estabelece-se que só há um símbolo e nada se diz sobre hinos, bandeiras ou outras iconografias.

Diz o texto que estabelece as regras de vida interna do Bloco de Esquerda que o símbolo deste "movimento político" é "composto por uma estrela humanizada de cor vermelha", mas que "na atividade regular do Movimento, o símbolo pode ter outras cores, em homenagem aos diversos patrimónios ideológicos e de lutas que no Bloco de Esquerda confluem".

Apesar de o Bloco não ter adotado qualquer hino, a verdade é que usa muitas vezes nas suas iniciativas uma canção escrita por Pedro Rodrigues, Jorge Costa e Sérgio Vitorino com uma letra que apela ao sentido de urgência de uma mudança na sociedade e um apelo emocional ao envolvimento dos militantes nas causas do Bloco.

A letra repete oito vezes a frase "Agora não é tarde, agora não é cedo".

Esta mesma letra afirma 18 vezes que "Está na Hora".

E esta mesma letra repete ainda 14 vezes a necessidade "de fazer a luta toda!"

A componente ideológica que suporta a urgência desta luta, tantas vezes proclamada, é bem mais sintética nesta canção: apenas uma estrofe faz a pergunta retórica que contextualiza o "Está Na Hora de Fazer a Luta Toda" e onde se lê: "Quem decide o preço deste chão,/ E das vidas que aqui estão?/Quem decide a vida ser assim,/Sempre assim?".

O estilo musical foge às habituais atitudes grandiloquentes das marchas e dos hinos de outros partidos, e até há um momento para vocalizações semi-improvisadas e um solo de instrumentos de sopro.

Há, também, uma audível insegurança quando as vozes tentam prolongar as notas que, se formos mauzinhos, nos levará a poder dizer que a canção preferida dos bloquistas prova que o grande João Gilberto tinha razão: os desafinados também têm coração.

Vamos então ouvir "Está na Hora"

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