Os vizinhos da Dona Dora não aguentaram as cantorias noturnas dos animais, foram a tribunal e conseguiram convencer o juiz a prendê-la. Mas os bichos continuarão à solta...
A Dona Francisca de Lucena, de 64 anos, foi presa há uns meses por andar a vender pedras de crack e outras drogas por aí. A Vovó do Tráfico, uma das mais conhecidas dealers do bairro Itapoã, em Brasília, ganhou, por causa disso, notoriedade nacional e até referência aqui nesta coluna.
Agora, o caso que se segue dá conta da prisão de uma senhora com ainda mais idade, a Dona Dora Dias, reformada de 68 anos, e residente em Santa Rita do Passa Quatro, região rural que fica uns 300 quilómetros ao norte de São Paulo.
A Dona Dora, no entanto, não trafica drogas e provavelmente nem sabe o que é crack, mas foi denunciada pelos vizinhos e terá de passar 25 dias na prisão.
Em causa, os galos que moram numa árvore aos fundos do seu quintal, por acaso, bem debaixo do quarto do casal da moradia ao lado.
Os quatro galos - que, entretanto já são só três, porque um deles, para grande desgosto da Dona Dora, morreu de velho - não só cantavam às primeiras horas da alvorada, como, boémios, ficavam acordados toda a noite num concerto ensurdecedor.
Depois de um ano nos tribunais, Dona Dora foi dada como culpada do crime de perturbação da tranquilidade e de nada lhe valeu ter acrescentado um metro ao muro que separa a sua casa da dos vizinhos nem ter mudado os bichos para dentro de casa.
O juiz sentenciou os tais 25 dias de detenção à dona mas não aos galos, cuja reação pode ser ainda mais sonora para desespero dos vizinhos.
Mas se Dona Dora, por outro lado, se lembrar de os levar para perto da cadeia ainda gera um motim.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.