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Elisa Ferreira "satisfeita" com audição, apesar das críticas

EPA

Elisa Ferreira está a poucas horas de saber se os eurodeputados aceitam que seja nomeada para a pasta da Coesão e Reformas, no executivo europeu.

A comissária indigitada para a pasta da Coesão e Reformas foi ouvida até ao início da noite, em Bruxelas, pela comissão do Desenvolvimento Regional. Elisa Ferreira desfez as dúvidas, negando o apoio a cortes numa das mais antigas políticas da União Europeia. Os eurodeputados dão-se por satisfeitos, mas a portuguesa não antecipa cenários.

"Não vale a pena fazer antecipações", afirmou Elisa Ferreira, aos correspondentes em Bruxelas, revelando "não estar apreensiva". A aprovação não deverá, porém, encontrar "resistências", apurou a TSF.

Membros de três dos grupos políticos anunciaram ainda ontem que votariam favoravelmente, embora não escondam um tom crítico, face ao teor das respostas enviadas antecipadamente por escrito, nas quais ficava subentendido um apoio a um orçamento "com cortes" nos fundos que virão a ser tutelados por Elisa Ferreira.

Durante a audição, a antiga eurodeputada esclareceu várias vezes os eurodeputados, dizendo ser "contra todos os cortes" e, no caso em questão, prometeu bater-se "com os colegas" no colégio de comissários, pela melhoria da proposta de orçamento de longo prazo, "nas margens possíveis".

Neste aspeto, Elisa Ferreira lembrou que a receita é decidida pelos eurodeputados e pelos Estados-Membros e, por essa razão, não está dependente de quem apenas tem poder de decisão sobre a despesa. "Assim, é no diálogo com os dois colegisladores que é decidido o que será o orçamento. Irei, na comissão e em toda a parte, apoiar ao nível mais elevado possível", disse.

"Definitivamente, com a margem de manobra que possamos ter, irei fazer campanha, junto dos meus colegas na comissão, para o mais alto nível possível do Quadro Financeiro Plurianual, para conseguirmos alcançar os objetivos a que nos propomos", garantiu Elisa Ferreira, tendo classificado a proposta que a Comissão Juncker colocou em cima da mesa como "uma base de trabalho, que inclui inúmeras questões que são positivas e que considero muito adequadas".

Dúvida desfeita

As declarações de Elisa Ferreira tranquilizaram "de alguma forma" os eurodeputados, havendo na sala quem saudasse "o recuo" nas afirmações anteriores e resolvesse "a contradição".

"O que já ouvimos hoje é uma absoluta mudança de posição ao que vinha nas respostas às perguntas escritas, da sua posição que nós saudamos", declarou o eurodeputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, considerando que "seria lamentável que a comissária da pasta [da Coesão], nas negociações que estão a decorrer sobre o orçamento comunitário, sobre o futuro da política de coesão, basicamente alinhasse ao lado da anterior Comissão Europeia".

Antes da audição, o eurodeputado social-democrata, José Manuel Fernandes, exigiu que Elisa Ferreira "defina de que lado está", por considerar "muito estranho, que se tenha colocado do lado dos inimigos da política de coesão, pois são eles que dizem que a proposta é moderada". Mais tarde, dava-se por satisfeito com os esclarecimentos "na prova oral".

"A comissária indigitada chumbou na prova escrita, mas passou na prova oral", afirmou José Manuel Fernandes, apontando "uma contradição entre o que escreveu e o que depois acabou por dizer".

Por essa razão,"o nosso grupo político não vai inviabilizar Elisa Ferreira, embora eu considere que todos os grupos políticos chumbaram a Elisa Ferreira nas respostas escritas", admitiu José Manuel Fernandes, referindo-se à posição do Partido Popular Europeu.

José Gusmão adiantou também que "na reunião de coordenadores da [comissão parlamentar de] Economia e a minha comissão iremos apoiar a nomeação de Elisa Ferreira", embora possam vir a fazer "recomendações em torno das preocupações que aqui manifestamos", durante "a elaboração da carta que consubstancia esse apoio"

Por sua vez, a eurodeputada socialista, Margarida Marques considerou que as suas expectativas "e as expectativas dos colegas com quem falei foram completamente cumpridas".

"Acho que se percebeu que Elisa Ferreira estava no seu meio e que tinha, de facto, uma prática de ser questionada desta forma e de dar a resposta", apontou Margarida Marques, elogiando o facto de a comissária indigitada "não procurar fugir às perguntas e mesmo as perguntas mais complexas como o fundo de transição".