Muitas vezes os partidos preferem usar para a campanha eleitoral não apenas os hinos que adotaram oficialmente, mas músicas que sejam associadas diretamente às imagens dos seus líderes.
Para isso, recorrem a músicas de bandas sonoras de filmes ou a canções muito populares - um hábito muito praticado, por exemplo, nas campanhas presidenciais nos Estados Unidos da América, que certamente influenciaram os conselheiros de imagem de alguns dos nossos candidatos.
António Guterres, o atual secretário-geral da ONU e líder do PS nos anos 90 do século passado, usou os ambientes épicos e pomposos criados pelo compositor grego Vangelis para filmes de Hollywood, como o 1492 sobre a viagem de Cristóvão Colombo à América ou o Momentos de Glória, sobre um dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna.
José Sócrates, também do Partido Socialista, alinhou pelo mesmo tom mas escolheu a pompa do Império Romano da banda sonora de Gladiador.
Essas escolhas de Guterres e de Sócrates serão discutíveis - afinal, a glorificação de líderes através da música roça o culto da personalidade e isso, em democracia, corre o risco de ser interpretado como uma deturpação do espírito eleitoral de umas legislativas - mas a verdade é que, na prática, funcionaram e tanto Guterres como Sócrates obtiveram bons resultados com essa opção.
O pior é quando a escolha da música é um desastre e isso aconteceu em 2005 a Santana Lopes, então líder do PPD/PSD, que adaptou a canção "Um Homem Também Chora", do brasileiro Gonzaguinha (por acaso um homem de esquerda) para um vídeo intitulado "Menino Guerreiro" onde Santana aparecia em grande plano a dar beijos e abraços emocionados a um sem número de pessoas.
Essa afetividade toda (ainda não vivíamos o tempo dos afetos do professor Marcelo) era acompanha por esta letra: "Um homem também chora/Menina morena/Também deseja colo/ palavras amenas/Precisa de carinho/Precisa de ternura/Precisa de um abraço da própria candura/Guerreiros são pessoas/são fortes, são frágeis/Guerreiros são meninos por dentro do peito...".
O efeito de um Santana em vídeo com esta banda sonora acabou por ser um bocado cómico, a cair para o ridículo, e o candidato acabou por entrar para a história dos hinos políticos dos partidos portugueses com um fracasso mediático.
Para encerrar esta série dedicada aos hinos dos partidos vamos então ouvir a versão original de "Um Homem Também Chora", dedicada a todos os meninos e meninas, guerreiros e guerreiras, que batalham pelo nosso voto no próximo domingo.
Que tenhamos todos, nós e eles, umas boas eleições.
Outros Hinos: