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Saia curta não entra no tribunal

Saia curta não entra no tribunal por ordem de juíza Direitos Reservados/OAB

Juiza de Iguaba Grande manda medir as roupas das advogadas. Uma teve de costurar a saia às pressas e outra de dobrar os joelhos para trabalhar. Ordem dos Advogados entrou com queixa.

Porque é que à entrada do Fórum Judiciário de Iguaba Grande, no interior do estado do Rio de Janeiro, há linhas de diversas cores e agulhas para coser?

E uma régua?

E fotografias de mulheres de saias?

E porque é que algumas advogadas são obrigadas a curvar ligeiramente as pernas à porta do tribunal?

Todas essas perguntas podem ser respondidas por Maira Veiga de Oliveira, a juíza diretora daquela corte.

Foi ela quem deu instruções aos seguranças para impedir a entrada de advogadas com saias ou vestidos mais de cinco centímetros acima dos joelhos.

Por isso, a linha e as agulhas - uma jurista estagiária, para entrar, foi obrigada a coser a dobra do seu casaco na saia e assim estar de acordo com as normas da juíza Maira.

Outra estagiária, com um vestido seis centímetros acima do joelho, de acordo com a medição da régua, logo, além da fasquia determinada pela magistrada, foi autorizada a entrar. Desde que dobrasse um pouco os joelhos para não se notar aquele centímetro de indecência.

Os seguranças, além de munidos com linha, agulha e régua e terem ordem para fazer as advogadas se dobrarem, usam umas fotografias nos seus computadores com as medidas consideradas corretas por Maira a servirem de exemplo.

O objetivo da juiza é "manter a compustura" e "impedir que os homens se distraiam".

No tribunal, as advogadas sente-se coagidas a aceitar as regras porque, afinal de contas, será a juíza a decidir sobre as causas que defendem.

Mas, entretanto, apresentaram queixa à corregedoria da secção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil.

A presidente da ordem, Margoth Cardoso, estranhou que uma medida tão machista tenha partido de uma mulher. E disse que a queixa foi o último recurso.

Primeiro, tentou falar com a juíza, alertar para a humilhação que as advogadas sentiam e demovê-la.

Mas Maira Oliveira não recuou um centímetro.

O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.