Política

Polícias manifestam-se quinta-feira. Debate aqueceu

António Cotrim/Lusa

PSD, CDS e Chega acusaram Governo de não ouvir reivindicações das forças de segurança. PCP alertou contra "infiltrações da extrema-direita". Ventura mostra faturas.

Lá fora, na Rua de São Bento, ergueram-se barreiras e grades e restringiu-se o estacionamento a pensar na manifestação que esta quinta-feira promete levar até ao Parlamento milhares de polícias. Lá dentro, no hemiciclo, foi pelas palavras que os partidos afinaram a narrativa.

PCP, CDS e Chega elegeram o assunto como tema para declarações parlamentares. Pelo CDS, Telmo Correia apresentou um diploma para agravar as penas para crimes contra agentes das forças de segurança e recomendações para seja atribuído um subsídio de risco e avaliadas as condições de trabalhos dos agentes.

"Se agredir um polícia é agredir o Estado, como disse o ministro, ignorar anos a fio as reivindicações justas dos agentes das forças de segurança, é o quê? É obviamente pôr em causa o Estado e a liberdade de todos. E é isso que este Governo tem feito", disse o deputado centrista, acusando o governo socialista e os partidos de esquerda, de não ter dado resposta "às questões essenciais" quanto às forças de segurança.

Já antes o PCP tinha exigido aos "demais partidos alguma coerência entre as palavras e os atos" sobre reivindicações de polícias e membros da Guarda Nacional Republicana (GNR), afirmando que PS, PSD e CDS "nada fazem nem deixam fazer".

"Enquanto o PS, o PSD e o CDS nada fazem nem deixam fazer, os suicídios nas forças e serviços de segurança continuam em níveis alarmantes. Os profissionais não obtêm qualquer resposta às suas reivindicações e, consequentemente, aumenta a frustração e o descontentamento que obriga os polícias a sair à rua", continuou António Filipe.

O PCP recordou os diplomas rejeitados sobre o estatuto da condição policial, condições de higiene e segurança no trabalho das forças e serviços de segurança e horário de serviço na GNR".

António Filipe manifestou ainda a preocupação pela "infiltração da extrema direita" nas forças policiais, farpa que teria resposta, adiante, por André Ventura do Chega: "Estão preocupados com a infiltração do Chega em manifestações, não deviam estar, deviam estar preocupados com o estado a que chegaram as nossas forças de segurança, com o estado a que chegaram as forças que nos defendem, quer segurança privada, quer segurança pública", disse o deputado na sua primeira declaração política nesta legislatura.

André Ventura acusou o primeiro-ministro de ter mentido durante o último debate quinzenal, ao dizer que os agentes das forças de segurança não compravam o próprio material, e mostrou algumas faturas dessas compras no parlamento.

"Estão aqui faturas de algemas, de coletes e de tudo mais, que o senhor primeiro-ministro disse que não existia e que na nossa casa não se verificava", disse o deputado do Chega, considerando que esta situação é uma "vergonha" não só para Costa, como também para o ministro da Administração Interna.

No debate quinzenal da última semana, André Ventura confrontou o chefe do executivo socialista com notícias sobre polícias que, alegadamente, terão tido de comprar material para o desempenho da sua profissão.

A forma como André Ventura iniciou a sua intervenção de hoje, com um agradecimento à mesa por poder intervir "a título excecional", mereceu uma resposta pronta do presidente da Assembleia da República.

Eduardo Ferro Rodrigues fez questão de dizer que André Ventura "tem direito, como todos os deputados únicos representantes de partidos, a falar três vezes" em dias de declarações políticas, pelo que disse não perceber a referência.

"Aliás, qualquer dos outros senhores deputados únicos podia ter utilizado a palavra hoje, só não o fez porque não quis", notou o presidente do parlamento, palavras que mereçam palmas de algumas bancadas.

Ao contrário do que tinha acontecido com as restantes bancadas, a declaração política do Chega não contou com pedidos de esclarecimento.