Rui Rio, Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro apresentam-se aos militantes da JSD no Fundão. Rui Rio foi, naturalmente, o mais criticado pelos adversários, Pinto Luz apelou à modernidade e à moderação, Montenegro sai acusado de falta de ética.
Costuma dizer-se que o melhor fica para o fim. Do ponto de vista mediático, as "saídas de guião" aconteceram precisamente na reta final quando um militante da JSD acusou Luís Montenegro de "falta de ética" e outros puseram em causa a sua lealdade. Já lá vamos...
Pela primeira vez nesta campanha interna à liderança do PSD, os três candidatos (e, aparentemente, únicos) estiveram no mesmo sítio para apresentarem os projetos que têm para o país e para o partido nos próximos dois anos. Apenas os atrasos permitiriam que os candidatos se cruzassem e quem tinha expectativa de assistir a encontros de "terceiro grau", nem valia a pena marcar presença.
Com 20 minutos de atraso, Rui Rio foi o primeiro. Dirige-se aos militantes com as ideias que desde sempre defendeu e piscando o olho à moderação. Começando por definir os três eixos que tem se for reeleito, Rio explica que é vital a "implantação autárquica", a "abertura do partido à sociedade civil" e a "oposição credível".
E é na oposição credível que tem farpas para a concorrência, nomeadamente Montenegro, mas sem nunca o nomear. Primeiro, nota que "uma oposição credível é aquela que é capaz de denunciar, criticar, capaz de apresentar uma alternativa, mas que tem a grandeza de saber concordar".
O presidente do PSD faz questão de sublinhar que "é um ato de fraqueza estar sempre contra", porque "os outros não fazem sempre tudo bem e tudo mal". "Nós também", remata.
Fazendo questão de vincar as diferenças, Rui Rio afirma que "os portugueses não esperam um combate de boxe" e lembra que se tivesse feito isso, "como muitos o pressionaram para fazer", teria tido os resultados "como outros partidos tiveram" deixando implícito o resultado do CDS nas eleições legislativas.
Até porque, defende Rui Rio, "há um real divórcio entre a sociedade e os partidos políticos". "Aquilo que se faz dentro do PSD é muito diferente daquilo que pensa a sociedade", nota.
Com a máxima do "servir Portugal", Rio invoca Sá Carneiro e defende que o PSD deve voltar a ser o "partido mais português de Portugal", o "partido que tinha dentro a sociedade".
Já na implantação autárquica - bandeira que Rio nunca escondeu - sublinha que o partido não pode voltar a ter 11% em Lisboa ou 10% no Porto, defendendo não só a necessidade ganhar mais câmaras, mas também reforçar a presença nas restantes.
Para o governo e António Costa também há farpas... Rui Rio não deixa passar em claro que, com este executivo, não é possível ter melhores salários, melhores serviços públicos e melhor qualidade de vida.
Porquê? Por causa da "geringonça". Rui Rio destaca que o "xadrez que temos na Assembleia da República", para esse efeito, "é praticamente igual ao que tínhamos antes": governo liderado pelo PS, sustentado pelo BE e PCP.
"Qualquer medida que o PS até quisesse tomar no sentido correto, nunca o podia fazer porque está espartilhado pelo Bloco e pelo PC", atira Rio.
Palmas no fim do discurso, perguntas e respostas dos militantes à porta fechada, e à saída um encontro com Miguel Pinto Luz que lhe desejou uma "boa campanha".
Pinto Luz quer ganhar tudo e ser oposição confiável
Também a ideia de "oposição confiável" foi um dos destaques de Miguel Pinto Luz. Mais... O autarca de Cascais pisca o olho aos outros candidatos dizendo que "quando ganhar o partido, a 11 e janeiro", vai buscar Rui Rio e Luís Montenegro "porque são precisos todos". "Aqui, no meu PSD, têm lugar todos aqueles que colocam a pessoa no centro da ação", nota.
No que diz respeito à "oposição confiável", Pinto Luz insiste que é a isso que se propõe porque "o primeiro interesse não é a agenda no partido, é a agenda nacional". Por isso, com farpas a Montenegro, recupera o tema do Orçamento do Estado para 2020: não contem com Pinto Luz para votar "cegamente contra um orçamento do PS". Diz até que "essa era a posição mais popular", mas levanta a bandeira da responsabilidade e da moderação.
Mas moderado não foi nas críticas ao atual estado do país ou até do líder Rui Rio. À cabeça, nota que gosta do PSD na sua totalidade: "não sei o que é gostar de partes, (...) ou se gosta ou não se gosta, quando se gosta mesmo não se tenta diminuir as estruturas". "Quem não gosta que dê lugar a outros que gostam", diz Miguel Pinto Luz referindo-se a Rui Rio sem o nomear.
E o "gosto" de Rio é apenas o ponto de partida. De "não me conformo a vê-lo [ao PSD] a disputar a segunda linha da política nacional" até ao "delapidámos um capital enorme", Pinto Luz diz ainda que ficou "chocado" por não ter ouvido a palavra "mudança" na última campanha do PSD.
Lembrando a social-democracia de Sá Carneiro, invocando o espírito de Cavaco Silva e ainda Passos Coelho - "injustamente apelidado de perigoso liberal" -, Miguel Pinto Luz sabe para que público fala e, entre elogios à JSD, nota que o atual partido tem "zero respostas" para os jovens. E, com ele, isso será diferente sublinhando que "o PSD desligou-se da tomada".
"A JSD tem de ser a força motriz do PSD porque, infelizmente, o PSD está estagnado. Precisamos de ser provocados", diz utilizando ainda adjetivos como "envelhecido" e "distante" e recusando que, com ele, a discussão no PSD seja a de se o partido está mais à direita ou à esquerda.
Pinto Luz garante ainda que não se resigna e que quer representar a "alternativa, a esperança, o horizonte e o sonho", rumo à vitória não apenas nas diretas de 11 de janeiro: Pinto Luz estabelece como objetivo as autárquicas e as legislativas.
Montenegro acusado de traição
Enquanto Pinto Luz sai Montenegro entra para uma intervenção que acaba com duras críticas vindas da plateia. Ao contrário de Rio (que não permitiu que a comunicação social ouvisse as perguntas da plateia), Montenegro segue o exemplo de Pinto Luz e deixa que os jornalistas fiquem na sala.
Se se arrependeu ou não, não se sabe, mas não deixou o "jotinha" sem resposta. Depois de outras críticas de militantes sobre ter sido desleal a Rui Rio em janeiro, um jota diz que chegou ali "sem intenção de voto definida" e sai com a certeza de que vai votar em Rio, acusa Montenegro de falta de ética: "política sem ética é uma vergonha".
Foi aqui que o clima ficou mais tenso. "Não aceito qualquer acusação de falta de ética", afirma e repete Montenegro, dizendo ao jovem militante que esperava que ele tivesse "consciência tranquila do ponto de vista ético" por ter dito que só tinha decidido o sentido de voto nesta sessão no Fundão.
Montenegro vai mais além e sublinha ter sido "leal com este líder". "Fiz um desafio público, não me escondi atrás de nada, disse o que pensava, não fui hipócrita", justifica-se. "Queriam que tivesse o taticismo de esperar o descalabro e ficar no sofá a assistir?", questiona.
Ainda assim, em resposta a outra militante com críticas à postura da "equipa Montenegro" durante a campanha das legislativas, o candidato admitiu que podem ter havido alguns exageros de alguns apoiantes. "Claro que houve [exageros], não vou estar aqui com um discurso cândido (...), mas também houve muita instigação", admite Montenegro.
Sobre aquele que é conhecido como "o golpe de Estado de janeiro", Montenegro diz mesmo que "se alguém saiu beneficiado" com o que fez, "foi o líder do PSD". Antes, já tinha repetido esta ideia notando que nunca tinha visto Rio tão combativo - nem com António Costa - como foi com ele na conferência de imprensa que na altura convocou.
Na intervenção que fez durante cerca de 40 minutos, Montenegro fez questão de vincar as diferenças e ao que vem: "o PSD não pode ser um partido subalterno do PS, sobretudo de um PS que está acorrentado ao PCP e ao Bloco de Esquerda".
Atirando a Rio, Montenegro diz que o atual líder "não só não recentrou o PSD, recentrou o PS" e que os socialistas conseguiram ficar na opinião pública com uma perceção mais central. Para justificar esta afirmação, fala mesmo dos resultados do PSD nas europeias e nas legislativas.
Por isso, Montenegro chega ao dia de hoje com a "obrigação política e moral para fazer o contrário daquilo que foi feito".
E o contrário daquilo que foi feito, internamente, passa pela "unidade na comunicação externa" que não representa "unicidade de pensamento". "Para saber discutir, cá dentro, temos de saber aceitar divergências de opinião, eu não aceito um partido onde uma liderança pede ou convida aqueles que pensam de forma diferente para abandonarem o partido", destaca o antigo líder parlamentar referindo-se, claro, a Rui Rio.
Mas nem só Rui Rio foi alvo de Montenegro, claro que houve espaço para as críticas ao governo, nomeadamente Centeno. "Tomáramos nós que ele tivesse o talento do Ronaldo e a agilidade de transformar uma dificuldade num golo", nota Montenegro para quem "Centeno tem as contas certas com a maior carga fiscal de sempre e o maior desinvestimento de sempre nos serviços públicos".
Realçando que o PSD só é chamado à governação quando o PS "desarruma a casa", deixa a questão aos militantes: "que partido querem? De plantão à espera que chegue a próxima vez em que o PS desarruma a casa? Ou querem um partido com ambição, com força que vem de dentro de si próprio?"
Para terminar, sublinhando que é preciso seriedade e que, por isso, vota contra um orçamento socialista, garante que, com ele, a oposição não será "pífia", será "firme, séria e forte".
A escolha cabe aos militantes, mas até janeiro ainda muita água vai correr. Montenegro só pede que, a votarem nele, o façam com convicção.
[atualização ao longo das intervenções dos candidatos à liderança do PSD]