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Ganha 60 vezes do que a média e acha um "miserê"

Leonardo Azeredo dos Santos, procurador da República no Brasil, queixou-se de receber pouco Direitos Reservados

Procurador gravado a lamentar o seu salário de mais de cinco mil euros auferiu o dobro nos meses seguintes. Metade dos brasileiros vive com perto de 90 euros mensais.

O Brasil é um país muito injusto: que o digam os nove jovens pisados até à morte no último domingo por causa de uma ação policial assassina durante um baile funk na favela de Paraisópolis, a maior da cidade de São Paulo.

E que o diga a mais de metade de brasileiros que vive com uma média de 413 reais, ou seja, uns 90 euros mensais.

E que o diga também Leonardo Azeredo dos Santos, procurador da República do Estado de Minas Gerais. No dia 12 de agosto, o procurador foi gravado em reunião da classe a queixar-se do "miserê", calão para "miséria", de 24 mil reais, mais de cinco mil euros, que recebia de salário limpo.

"Como é que o cara vai ver com 24 mil reais?", perguntava-se Azeredo, indignado com a injustiça, a penúria, o "miserê". Ele revelou também que só aguentava a situação à base de ansiolíticos. "Vamos quase virar pedintes?", concluiu.

(Caso se tenha esquecido, dissemos há pouco que metade dos brasileiros vive com média de 413 reais.)

Mas no Brasil há esperança de um futuro melhor. Não, claro, para os mortos de Paraisópolis, que agora só têm passado, e as suas famílias, destruídas pela ação das autoridades.

Nem para os cem milhões de brasileiros que gerem 90 euros mensais.

Há esperança de um futuro melhor para o procurador Azeredo: o jornal Metrópoles pesquisou e descobriu que nos dois meses seguintes ao seu queixume, ele já recebeu, com indemnizações retroativas e temporárias, uma média de 68 mil reais por mês, exatamente o dobro do "miserê" anterior.

O Brasil, como repetia Tom Jobim, não é mesmo para principiantes.