Opinião

A pobreza não é um fado, mas é um fardo

Os números podem ser virados de muita forma, mas acabam por revelar sempre o mesmo. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos, mais conhecido por PISA e que abrange jovens de 15 anos em 79 países, mostra o quanto o contexto social ainda influencia os resultados nos testes. Os estudantes portugueses que provêm de meios desfavorecidos têm, em média, resultados inferiores em 95 pontos - uma diferença que não só está acima da média na OCDE como aumentou em relação a 2009, altura em que era de 87 pontos.

Um aluno oriundo de um contexto socioeconómico fragilizado tem três vezes mais probabilidades de ficar nos níveis mais baixos. E na leitura, o domínio que esteve em foco no PISA 2018, só 10% dos mais desfavorecidos atingem bons resultados.

Para sustentar que a desvantagem económica não é um destino, a OCDE destaca os chamados "alunos resilientes", ou seja, que conseguem contrariar o contexto de base e apresentam bons resultados. Em Portugal são cerca de 10% dos que fizeram os testes, muito próximo da média da OCDE, que é de 11%. A verdade é que, apesar dos sinais de esperança, o determinismo é ainda demasiado evidente. E, mais preocupante ainda, revela-se sobretudo nas expectativas dos mais novos.

Olhando apenas para os alunos com bons resultados, 1 em cada 4 dos que têm "resiliência académica" não espera concluir o Ensino Superior. Essa relação, no caso de alunos de origem socioeconómica mais elevada, é de apenas 1 em cada 30. E este é um sinal preocupante de falta de confiança na capacidade de contrariar os obstáculos de contexto.

Essa falta de confiança na igualdade de oportunidades e nas garantias oferecidas pelos serviços públicos não é exclusiva da educação. Na saúde, indicadores como o de que são as classes média e média-baixa que mais estão a contratar seguros mostram como é urgente fortalecer os serviços públicos e restabelecer a confiança dos cidadãos na igualdade e qualidade do acesso. Uma tarefa ainda mais essencial na Educação, já que, conclui também a OCDE, as escolas privadas portuguesas são aquelas em que há mais segregação.

A escola pública, que tem sido o maior elevador social nos últimos 40 anos, tem um papel único no combate às desigualdades sociais. Têm de ser multiplicados e valorizados os que projetos nesse sentido e, como prometeu o ministro da Educação no auge da discussão sobre as retenções e o combate ao insucesso escolar, deve ser dada uma atenção redobrada à diversidade das escolas e dos territórios, apoiando mais quem mais precisa. Se algo está a falhar nessa luta ou se são ainda tão fortes os sentimentos de determinismo socioeconómico expressados pelos nossos jovens, é nosso dever, como sociedade, refletir sobre o caminho por fazer. A pobreza não pode ser um fardo que pesa e dificulta altos voos.

Inês Cardoso