Sociedade

"Não há justificação" para que a Proteção Civil não tenha usado o aviso por SMS

Rodrigo Cabrita

Associação Proteção e Socorro diz não compreender a decisão de não enviar mensagens de aviso às populações e deixa críticas à opção do Governo em utilizar o sistema de SMS face ao de difusão celular.

Se o SMS não serve, porque não utilizar a difusão celular? A Associação Proteção e Socorro (APROSOC) deixa, este domingo, a pergunta no ar depois de se ter sabido que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) não enviou SMS de alerta às populações durante a passagem das depressões Elsa e Fabien pelo território nacional.

Ao Jornal de Notícias, a ANEPC explicou que a decisão de não enviar SMS passou por trabalhar mais a ligação com as populações", recorrendo para isso a comunicados de imprensa e "com a colaboração dos órgãos de Comunicação Social."

"A SMS diz muito pouca coisa e nós queríamos dizer muito mais, por isso foi decisão da Proteção Civil não a usar", completou. Contactado pela TSF, Miguel Cruz confirmou a opção da autoridade nacional e remeteu mais esclarecimentos para um comunicado que deve ser divulgado ainda este domingo.

SMS não é a melhor solução

As respostas não são, no entanto, suficientemente esclarecedoras para a APROSOC. À TSF, João Paulo Saraiva diz não compreender a decisão da autoridade de proteção civil: "Não há qualquer justificação para que o aviso por SMS não tenha sido utilizado."

O representante da APROSOC lembra que, este sábado, havia quem não estivesse informado dos perigos ao seu redor e que "nem toda gente tem acesso às redes sociais, nem toda a gente tem Internet nos telemóveis, nem toda a gente está atenta aos órgãos de comunicação social".

Neste caso, o SMS possibilitaria "complementar" a forma de aviso às populações... mas não é a melhor solução. "É um problema essencialmente político", explica.

Difusão celular

A APROSOC e a ANEPC apresentaram, "em 2010 e 2011", propostas ao Governo para que fosse implementado sistema de difusão celular.

"O sistema de aviso por SMS não é, seguramente, o sistema mais eficaz. Qualquer pessoa mal-intencionada pode criar falsos avisos por SMS, qualquer um o pode fazer, é muito fácil enganar as pessoas."

Sendo assim, o que é possível fazer com a difusão celular? "Tem a possibilidade de ter mais texto e não tem tantas vulnerabilidades", argumenta João Paulo Saraiva.

O presidente da APROSOC vai até mais longe nas críticas, defendendo que a Proteção Civil "não deve ser um negócio".

"Não faz qualquer sentido que o Estado português tenha uma despesa de mais de um milhão de euros por ano para suportar este serviço, que é muito caro para a utilidade que está a ter", lamenta João Paulo Saraiva.

O líder da associação recorda que antes da alteração à Lei de Bases das Telecomunicações "todos os operadores do serviço móvel terrestre, radiodifusão e radiotelevisão estavam obrigados a colaborar, em matéria de Proteção Civil, graciosamente."

"Estamos a falar de um serviço de utilidade pública e que, inclusivamente, permite aos operadores de telecomunicações a sua promoção. A Proteção Civil não deve ser um negócio."

Administração Interna defende resposta da Proteção Civil

Numa resposta enviada à TSF, o ministério da Administração Interna garante que a resposta às ameaças "foi proativa e localizada em todas as zonas de risco, como todos puderam constatar ontem no Baixo Mondego".

A tutela garante que houve "total articulação com as autarquias e evacuações preventivas atempadas".

Cláudia Arsénio e Gonçalo Teles