Economia

Líderes mundiais querem eco de economia mas também de ecologia

As questões ambientais tornam-se um tema fulcral no Fórum Económico Mundial Rodrigo Jiménez / EPA

Fórum Económico Mundial lança grito pela crise ambiental que não pode ficar pendurada numa nova crise económica.

Mais do que as questões financeiras e sociais, os especialistas de Davos colocam, pela primeira vez, as questões ambientais como um fator critico para a próxima década.

O Relatório dos Riscos Globais do Fórum Económico Mundial é um inquérito a 750 especialistas e decisores mundiais a quem é pedido para classificarem as suas maiores preocupações em termos de probabilidade e de impacto e ao longo de 15 anos nunca se tinha visto respostas desta natureza.

"Pela primeira vez, ao fim destas 15 edições, os cinco principais riscos em termos de probabilidade são ambientais", salienta o especialista de risco da Marsh Portugal, Fernando Chaves.

A Marsh e a Zurich são parceiros do Fórum Económico Mundial neste relatório que é dominado pela crise ecológica. "Há um ano tínhamos, no quarto e quinto lugar, dois riscos de âmbito tecnológico, este ano todos os cinco principais riscos são ambientais".

Estes riscos são:

- "eventos climáticos extremos com grandes danos ao património, às infraestruturas e perda de vidas humanas";

- "fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas por governos e empresas";

- "grandes catástrofes naturais como terramotos, tsunamis, erupções vulcânicas e tempestades geomagnéticas";

- "perda significativa da biodiversidade e colapso de ecossistemas (terrestre ou marinho) com consequências irreversíveis para o ambiente, resultando em recursos severamente esgotados para a humanidade, assim como para as indústrias";

- "desastres e danos ambientais provocados pelo homem, incluindo crime ambiental, como o derramamento de petróleo e a contaminação radioativa".

Este ano, o relatório distingue o painel em termos etários e a visão dos nascidos depois de 1980 corresponde a um maior sentimento de perigo climático. "Para os mais jovens, os riscos climáticos ficam no topo da tabela."

Podemos dizer que estamos na economia perante um "efeito Greta Thunberg"? "Obviamente que a Greta tem um papel importante naquilo que é uma voz de comando para os mais jovens, mas já vínhamos a sentir o efeito Internet, e a questão do plástico não surge com o "efeito Greta"; já vinha a ocorrer e os mais jovens já vinham a demonstrar sentimentos de alguma repulsa e tentativa de alteração de comportamento dos mais velhos", sublinha Fernando Chaves.

Os riscos apontados pelo painel não têm só que ver com as alterações climáticas, têm também que ver com a existência de eventos extremos não necessariamente com origem no clima.

Por outro lado, aponta-se o receio de que uma nova crise económica estrangule as iniciativas de combate às alterações climáticas. "A eminência de uma potencial nova crise coloca-nos no limiar de um problema tremendo, que é o risco de uma nova crise económica, ou mais guerra, sob pena de que isso faça com que o investimento em investigação e desenvolvimento para encontrar soluções que venham dar resposta às questões do clima e do planeta depois não sejam solucionadas", conclui.

Quanto aos riscos de curto-prazo, o relatório aponta, os receios de três problemas ambientais numa lista de 10 riscos. Uma lista encabeçada pelos Confrontos económicos (mais relevante para 78,5% dos inquiridos), polarização política doméstica (78,4%), ondas de calor extremo (77,1%), destruição dos ecossistemas naturais (76,2%).

José Milheiro