Política

Mercado da habitação: "Não podemos viver como escravos das leis da natureza"

Stephanie Lecocq/EPA

Pedro Nuno Santos defende que a classe média tem de ter capacidade de viver nas cidades e que, mesmo dentro do PS, não se pode compactuar com um mercado gerido por "leis da natureza".

Pedro Nuno Santos esteve a falar aos militantes do PS e criticou quem "mesmo dentro" do partido acredita que há zonas da cidade onde a classe média não tem condições para viver, alertando que não se pode concordar com um mercado baseado em "leis da natureza".

O ministro apelidou os preços da habitação de "inaceitáveis e escandalosos", deixando claro que "está nas mãos" do PS contrariar a situação da habitação em Portugal, estabelecendo regras para tornar o mercado mais justo.

"Estamos a falar de uma frustração que atravessa todas as gerações. Quando um filho, que quer constituir uma família, tem a sua namorada ou namorado, quer ir viver com ela ou com ele, ter a sua casa, começar a sua vida e não consegue encontrar uma casa na cidade onde nasceu e cresceu, isto não é aceitável", começa por apontar o governante.

Mais, continua, "há quem explique, mesmo cá dentro, apesar de a seguir a partido [estar socialista, ironizou apontando para o símbolo do PS], que temos de nos habituar e que há zonas da cidade onde não podem, tem de procurar outras zonas da cidade ou outras cidades". O que leva a questionar: "Mas porquê? Porque é que temos de desistir de ter a população e a classe média também a viver nos melhores sítios da cidade, porquê?"

Pedro Nuno Santos recusa aceitar que as "leis do mercado" sejam uma "espécie de fenómeno da natureza sob o qual não podemos meter mão". "É a mesma coisa que uma tempestade? O que é que é isso? Um fenómeno natural? As leis de mercado existem e têm de respeitar regras que são definidas pela comunidade, [o mercado] funciona de acordo com as regras que a comunidade, organizada através da Assembleia da República, decide", atira o ministro das Infraestruturas.

"Não há cá uma força exterior a que se chama mercado que tem de regular as nossas vidas como se fossemos escravos das leis da natureza", acrescenta Pedro Nuno Santos.

O ministro prossegue ainda dizendo que "o mercado da habitação não é o das laranjas ou dos sapatos", já que se trata "do bem mais fundamental das vidas, a partir do qual se constrói tudo o resto", recusando aceitar que os "centenas de milhares de portugueses se tenham de pôr ao fresco e ir viver para outro lado".

Pedro Nuno Santos também apontou o dedo aos "amigos liberais", perguntando como "podem dizer que se é livre quando não se consegue ter uma casa", um "bem básico". "Só somos verdadeiramente livres se tivermos acesso à habitação", assegurou.