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Homem que quase mata namorada sai em liberdade

Micheli Schlosser e Lisandro Rafael durante o julgamento Direitos Reservados

Lisandro disparou cinco vezes sobre Micheli que, por sorte, sobreviveu. No julgamento, como ela pediu para beijá-lo, os jurados deixaram o assassino à solta.

O julgamento de um homem, Lisandro Posselt, que tentou matar a namorada, Micheli Schlosser, em Venâncio Aires, cidade do interior do Rio Grande do Sul, terminou com o potencial assassino livre e solto.

Mas já lá vamos.

Primeiro, o crime, de agosto de 2019 numa praça no centro de Venâncio Aires.

Lisandro, 28 anos, e Micheli, 25, discutem ruidosamente na frente de amigos. Lisandro, furioso, retira-se. Instantes depois, volta, numa moto, de pistola na mão.

Os amigos notam a presença da arma e empurram Micheli para dentro de um carro. Tarde demais: Lisandro dispara sete vezes e em cinco delas atinge Micheli.

Ele foi preso no dia seguinte. E ela, por sorte, após dias internada num hospital, sobreviveu aos disparos.

Voltemos então ao julgamento, por tribunal de júri, da semana passada.

A defesa sabia que tinha em mãos um caso impossível - afinal, o réu disparara sete vezes, acertando cinco, num crime flagrante de feminicídio. Só um golpe de teatro podia salva-lo da cadeia.

E o golpe de teatro aconteceu em três atos.

No primeiro, Micheli pediu autorização ao juiz para beijar Lisandro. E o juiz, por mais estranho que possa parecer, permitiu. No segundo, talvez comovidos por verem um potencial assassino, sabe-se lá por quê, ser aparentemente perdoado pela vítima condenaram-no a meros sete anos - e só a partir de oito ele iria para a cadeia. E no terceiro, Lisandro saiu em liberdade, quase como um herói de filme romântico, de mão dada a Micheli, a mesma mão com que apertou o gatilho sete vezes. A mesma mão que um dia pode vir a matá-la. A ela ou à próxima namorada noutro ataque de fúria com uma arma em punho.

O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras a crónica Acontece no Brasil