Embaixador José Cutileiro recorda os tempos da Aliança Democrática e o "feitio complicado" de um historiador que nunca o foi a "full-time".
"Quando éramos novos, ele era um miúdo e eu era já quase um homem..." É assim que o embaixador José Cutileiro começa a recordar, à TSF, Vasco Pulido Valente, que morreu esta sexta-feira, aos 78 anos.
Conheceram-se ao longo de vários anos. Cutileiro recorda Pulido Valente "na altura da Aliança Democrática, quando o Vasco resolveu seguir o Sá Carneiro e deixar o Partido Socialista". A morte de Sá Carneiro foi, para Vasco Pulido Valente, "um trauma enorme".
"Era um homem muito inteligente, muito divertido, com um feitio complicado. Há muita gente que não gostava dele, eu próprio gostei sempre dele mas, às vezes, não sabia se ele me falaria ou não quando o encontrava, porque ele zangava-se com as pessoas", explica o embaixador.
O vazio que fica é, sobretudo "o da lucidez e da maneira de escrever". Vasco Pulido Valente foi, desde o 25 de Abril, "o melhor cronista político que tivemos, o mais divertido de ler e o mais profundo a ver as coisas".
Historiador, há quem acuse Vasco Pulido Valente de não o ter sido "a full-time" por não ter feito "investigação própria sobre algumas coisas".
Ainda assim, explica José Cutileiro, o livro "O Poder e o Povo", sobre a revolução republicana, é "admirável e ajudou muito a colocar a República em perspetiva, sobretudo para quem, no tempo de Salazar e de Caetano, era de tradição republicana e tinha uma visão demasiado enaltecida do que a República tinha sido".
"Aprendi com ele, ri-me com ele. Vai fazer muita falta", lamenta José Cutileiro. O escritor, comentador político e historiador Vasco Pulido Valente morreu, esta sexta-feira, aos 78 anos.
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