Num campo de migrantes improvisado, entre a Turquia e a Grécia, vive-se o impasse. As pessoas podem abandonar o território turco, mas não há passagem para o outro lado, enquanto a Turquia e o resto da Europa continuam num braço de ferro.
A fronteira terrestre entre a Turquia e a Grécia estende-se por 212 quilómetros, e o rio Evros, que banha ambos os países, é um dos obstáculos à passagem. Mas não é o único. Em torno do portão de Pazarkule-Kastanies, a norte da fronteira, há dez quilómetros de arame farpado, ali erguido pela Grécia, em 2012. É justamente nesse pedaço de terra, quase sem esperança, que se concentram mais de cinco mil pessoas num campo de migrantes improvisado, já que as autoridades gregas decidiram impossibilitar a passagem por completo.
A tensão sentida nos limites físicos dos dois Estados é também materializada politicamente, com Erdogan, o Presidente turco, a dirigir acusações e exigências à Europa, e, do lado dos países europeus ocidentais, surge a palavra "chantagem" para descrever a decisão turca de abrir fronteiras. Mas abrir fronteiras não significa oferecer passagem, e 24 mil pessoas foram já impedidas de entrar na Europa, apesar de terem sido autorizadas a abandonar a Turquia.
As tentativas de passagem têm sido repelidas com gás lacrimogéneo, lançado sobre os civis pelas autoridades gregas. Alguns, no entanto, conseguiram quebrar o cerco e abrir buracos com o recurso a alicates, fornecidos, segundo conta o jornal El País, pelas forças de segurança turcas.
Distribuídos ao longo de 150 quilómetros de fronteira - uma técnica de Ancara para gerir o fluxo migratório, já que em território turco estão mais de três milhões de refugiados -, os migrantes recém-chegados são vistos pelo Governo grego como uma forma de pressão para que a Turquia atinja "os seus objetivos". Ali fixaram-se 700 elementos da Frontex, barcos e veículos de patrulha.
A publicação espanhola El País conta a história de uma família turca que caminhava, sem qualquer orientação, pela vila de Elçili, na costa turca de Evros, depois de agentes turcos terem permitido a passagem para o outro lado do rio, mesmo com a certeza vazia de dois carrinhos de bebé nas mãos cansadas. Mais tarde, relata o jornal espanhol, o mesmo aconteceu com um grupo de paquistaneses que empurrava a cadeira de rodas de uma pessoa amputada. Os relatos têm sido recorrentes: o Governo de Erdogan tem encaminhado os migrantes até à berma o rio, apenas com a autorização de passar para o outro lado.
A Grécia perpetua o impasse: ainda esta terça-feira suspendeu os pedidos de asilo durante um mês. Apesar de a União Europeia ter anunciado novos apoios ao território grego para fazer face à pressão migratória, a tensão tem aumentado nos últimos dias e não tem fim à vista.
Por terra ou por mar, os acessos são cada vez mais perigosos e inviáveis. Centenas de migrantes e refugiados que chegaram nos últimos dias à ilha de Lesbos ainda aguardam, no porto de Mitilene, para embarcar num navio da marinha grega que servirá provisoriamente como alojamento flutuante.
O navio da marinha chegou às 10h00 (08h00 em Lisboa), mas devido aos fortes ventos, teve de retirar-se do porto, conta esta quarta-feira a agência Lusa.
O barco acolherá 400 pessoas que chegaram desde domingo à costa turca, mas será apenas para famílias e não para pessoas que viajaram sem companhia. Por enquanto, é desconhecido o destino final do navio, que foi transferido do porto de Pireu para Lesbos com o objetivo de evitar mais congestionamentos do campo de refugiados de Moria, onde mais de 20 mil pessoas vivem praticamente sem condições.