Mundo

Mea culpa? Ministro holandês reconhece "pouca compaixão" nas suas declarações

Olivier Hoslet/EPA

Hoekstra reconhece que as declarações sobre Espanha, Itália e a emissão de coronabonds foram mal recebidas, mas reiterou a oposição holandesa à emissão.

É uma espécie de mea culpa do ministro holandês das Finanças, Wopke Hoekstra. Depois das polémicas declarações - que António Costa apelidou de "repugnantes" - sobre os países do sul da Europa e da sua capacidade de combate ao coronavírus, o responsável holandês recuou nas palavras.

Esta terça-feira, em entrevista à RTL, reconheceu que os comentários recentes do próprio e do primeiro-ministro holandês Mark Rutte sobre a participação holandesa nos coronabonds terão mostrado "pouca compaixão" para com os países em questão.

Na mesma entrevsita, Hoekstra reconhece que as declarações foram mal recebidas no seio europeu. "Tem muito a ver com a forma como o dissemos. Não fomos suficientemente empáticos, e isso levou a resistências. Expressámos bem o que não queríamos, mas não conseguimos fazer passar o que queremos. Eu deveria ter feito melhor", disse.

O ministro garantiu que o Governo holandês é sensível aos apelos de solidariedade dos países mais atingidos pela atual crise, "que é, acima de tudo, sanitária", e que pretende também ajudar a encontrar uma resposta, até porque uma União Europeia forte também é do seu interesse.

É sabido que Holanda e Alemanha se opõem à emissão conjunta de dívida a nível europeu, mas foram os comentários de Hoekstra - que sugeriu uma investigação a Espanha e Itália por falta de capacidade económica para responder à pandemia - que levaram a um coro de críticas do qual António Costa fez parte.

Hoekstra já garantiu que a Holanda está disposta a discutir uma contribuição de "mais do que lhe toca" para um programa de apoio europeu, mas reiterou que o país se opõe à emissão de coronabonds.

"Sobre coronabonds ou eurobonds, como quer que se chamem, não é prudente, é uma solução para um problema que não existe agora", argumenta.

Após a reunião por videoconferência do Conselho Europeu de 26 de março, António Costa foi questionado sobre declarações de Hoekstra, que, segundo vários órgãos de imprensa europeia, sugeriu que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha que alegam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pela pandemia da Covid-19, apesar de a zona euro estar a crescer.

"Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo essa. Repugnante", reagiu António Costa, acrescentando que as palavras do ministro holandês foram de "uma absoluta inconsciência" e de uma "mesquinhez recorrente", que "mina completamente aquilo que é o espírito da União Europeia e que é uma ameaça ao futuro da União Europeia".

No final desse Conselho Europeu, marcado por uma discussão tensa que se prolongou por cerca de seis horas, os líderes dos 27 convidaram o Eurogrupo a trabalhar, no prazo de duas semanas, em propostas concretas para uma resposta comum aos choques provocados pela pandemia de covid-19 nas economias europeias, tendo o presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro, Mário Centeno, convocado uma reunião extraordinária para 07 de abril.

"O Eurogrupo vai reunir-se em 7 de abril para atuar mediante o mandato atribuído pelos lideres do Conselho Europeu e apresentará propostas para reforçar a nossa resposta, em termos de políticas a adotar na UE, à covid-19", anunciou na segunda-feira o presidente do Eurogrupo.

Entre as soluções mais abordadas, e além da emissão conjunta de dívida, que continua a merecer a oposição de Holanda, Áustria, Finlândia e também muito pouca recetividade da Alemanha, conta-se a de recorrer a uma linha de crédito condicional do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MME), o fundo de resgate permanente da zona euro.