Numa altura em que tanta falta fazem nos hospitais, a leiloeira Oportunity vendeu 250 máscaras cirúrgicas por cerca de 800 euros. ASAE garantiu que nada impedia o leilão.
São cinco lotes de 50 máscaras cada. Estiveram, desde a tarde de domingo, 29 de março, à venda no site da Oportunity Leilões, com sede em Alcabideche, no concelho de Cascais. Na descrição de cada lote, pode ler-se que são "certificadas" e destinam-se a "utilização médica e / ou pessoal". A entrega é "imediata" e a leiloeira faz a distribuição no local onde o comprador se encontrar.
Nas últimas horas do leilão, o preço de cada lote mais do que duplicou em relação ao preço visivel no site, a meio desta tarde. O lote mais barato foi transacionado a 150 euros e os mais caros, a 170. Contas feitas, as 5 caixas de máscaras cirúrgicas, essenciais ao pessoal da saúde, renderam um total de cerca de 800 euros. Desconhece-se quem é ou quem são os compradores.
O leilão começou ao meio-dia de domingo e terminou esta noite. Dois dias depois do início, a Oportunity acrescentou. às condições da venda, que "a receita reverte integralmente a favor de uma instituição de combate à Covid 19, indicada pelo licitante vendedor". Na 2a feira, dia em que a TSF consultou o site da leiloeira pela primeira vez, essa informação não estava disponível.
Porque não doar? Uma pergunta sem resposta
Nos últimos dias, a TSF tentou, de várias formas e por diversos canais, perceber porque motivo aceitou a Oportunity Leilões vender máscaras cirúrgicas, numa altura em que os profissionais de saúde, nomeadamente médicos e enfermeiros, reclamam da falta de material de proteção e denunciam formas "criativas" encontradas pelo pessoal da saúde para se defender do "inimigo invisível".
Quisémos também saber porque motivo se optou pela venda em leilão, e doação do dinheiro resultante dessa venda, em vez da simples doação direta das máscaras a hospitais.
Perguntámos se, antes de avançar com esta operação, a Oportunity informou o Infarmed, a entidade regulador do medicamento, que também é responsável pelos dispositivos de saúde; ou a ASAE, a polícia que fiscaliza a atividade económica.
Não obtivémos qualquer resposta da parte da leiloeira. Do outro lado do telefone e do correio eletrónico, apenas o silêncio.
Não há "impedimento"
A TSF procurou também saber se esta venda de máscaras cirúrgicas é legal, dado o estado de emergência que o país vive. A pergunta foi, antes de mais colocada ao Infarmed, mas a resposta diz apenas que o "assunto é da competência da ASAE".
Precisamente a "porta" a que batemos de seguida. Num primeiro contacto, a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica garantiu estar a "monitorizar" a actividade (leiloeira). Dois dias depois, na volta do correio, a ASAE respondeu que "não se vislumbra qualquer impedimento para a realização do leilão online em causa".
E esclareceu a ASAE que a venda está dentro da lei, porque o decreto que regula o estado de emergência define que este é um dos "serviços que podem manter-se em atividade" e que as máscaras cirúrgicas não estão "sujeitas a qualquer restrição".