Organização Internacional do Trabalho descreve "catástrofe" enfrentada por trabalhadores e empresas. 81% da mão-de-obra global está a ser afetada pela paralisia total ou parcial do trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) antevê "perdas devastadoras" no emprego por causa da pandemia do novo coronavírus.
Depois de há duas semanas ter admitido que até 25 milhões de pessoas poderiam perder o posto de trabalho, a organização diz agora que "existe um risco elevado de que no final do ano, o número seja significativamente maior" do que essa projeção.
Num relatório sobre o impacto laboral do Covid-19, a OIT conclui que "1,25 mil milhões de trabalhadores (isto é, quatro em cada dez trabalhadores) estão em setores identificados como sendo de alto risco a aumentos drásticos e devastadores no lay-off e reduções nos salários e no horário de trabalho". São quase 38% de todos os trabalhadores do mundo. Na Europa, a proporção sobe para 42%.
O estudo mostra ainda que "mais de quatro em cada cinco pessoas (81%), das 3,3 mil milhões que constituem a mão-de-obra global estão já a ser afetadas pelo encerramento total ou parcial do local de trabalho".
A OIT sublinha que grande parte dos potenciais afetados "tem empregos mal remunerados e pouco qualificados, em que uma perda repentina de rendimentos tem efeitos devastadores"
Nesta crise que é "a mais grave desde a segunda guerra mundial", a organização estima "perdas substanciais em diferentes grupos de rendimento, mas especialmente nos países de rendimento médio alto (7,0%, 100 milhões de de pessoas com emprego a tempo completo)", que "excedem em muito os efeitos da crise financeira de 2008"
Entre os setores em maior risco incluem-se os dos serviços de hotelaria e restauração, indústria, retalho, comércio e atividades administrativas.
Em termos regionais, a proporção de pessoas a trabalhar nesses setores varia entre 41% nas Américas e 26% na Ásia e no Pacífico. A OIT alerta que "nas regiões com níveis mais elevados de informalidade, e com ausência de proteção social, elevada densidade populacional e fraca capacidade, os desafios económicos e de saúde são ainda mais graves".
Em todo o mundo, dois mil milhões de pessoas trabalham no setor informal (principalmente nas economias emergentes e em desenvolvimento) "e estão particularmente expostas ao risco", lê-se.
Os sectores menos expostos a riscos são os de educação e saúde.
A OIT estima também que crise do Covid-19 elimine 6,7% das horas de trabalho a nível global no segundo trimestre. É o equivalente a 195 milhões de pessoas com emprego a tempo completo".
"Maior teste em 75 anos"
O diretor-geral Guy Ryder deixa o alerta: "trabalhadores e empresas estão a enfrentar uma catástrofe, quer nas economias desenvolvidas quer nas economias em desenvolvimento", apelando a que o mundo "aja rápido, de forma decisiva e em conjunto". "As medidas certas e urgentes podem fazer a diferença entre a sobrevivência e o colapso", escreve.
Ryder entende que a pandemia é "o maior teste à cooperação internacional em mais de 75 anos". O diretor-geral realça que "se um país falha, então todos falhamos. Temos de encontrar soluções que ajudem todos os segmentos da nossa sociedade a nível global, particularmente aqueles que são mais vulneráveis ou menos capazes de se ajudar a si mesmos."