Sociedade

Ir para a rua ou ficar em casa? Falta informação para sabermos o que fazer

Passageiros num autocarro em Almada Mário Cruz/EPA

Antigo diretor-geral da saúde diz que é preciso saber onde e como é que estão a surgir as novas infeções com coronavírus.

Numa altura em que o Presidente da República e o Governo apelam aos portugueses para que voltem a consumir e não deixem de voltar a frequentar cafés e restaurantes, no domingo o executivo voltou a prolongar por mais duas semanas o estado de calamidade, mantendo o "dever cívico de recolhimento domiciliário".

Aquilo que pode parecer uma contradição é, segundo Constantino Sakellarides, explicado com um problema de informação que não está a ser divulgada pelas autoridades de saúde para percebermos como é que, afinal, nos devemos comportar no dia-a-dia no local onde vivemos.

O antigo diretor-geral da saúde defende que aquilo que está a ser diariamente anunciado pela Direção-Geral da Saúde (quantos novos casos de Covid-19 surgem e em que municípios) era útil no pico da pandemia, mas neste momento não chega.

"Precisamos de saber esse número de casos, mas também onde e como ocorreu a transmissão. Isso é que interessa", sendo mais graves os casos em que existe uma comunidade onde o vírus circula de uma forma sustentada, ou seja, onde os casos que aparecem não são associados a uma cadeia de transmissão conhecida.

Uma informação que teria uma "enorme consequência no meu comportamento como pessoa que pensa e toma decisões", detalha, à TSF, o professor da Escola Nacional de Saúde Pública.

Falta informação?

Constantino Sakellarides defende que com a informação que temos não conseguimos perceber o que está exatamente a acontecer, sendo que nesta fase pós pico da propagação da Covid-19 precisamos de "classificar" o tipo de transmissão que está a acontecer.

O especialista diz que ter algumas dezenas de casos num concelho pode não ter qualquer perigo para a comunidade se essa transmissão estiver limitada a uma casa, a uma pensão ou a um lar.

"Pode acontecer que na minha comunidade o vírus não esteja a circular", detalha Sakellarides que sublinha: "Uma coisa é 30 casos numa pensão ou num lar e outra 30 casos resultado de uma cadeia de transmissão na comunidade", sem origem conhecida, tal como é diferente ter "uma cadeia de transmissão num local muito frequentado ou isolada em duas famílias numa determinada freguesia".

Razões que levam o antigo diretor-geral da saúde a dizer que é este tipo de informação que levará os cidadãos a perceberem o que se passa e a tomarem decisões, nomeadamente sobre sair ou não de casa e que sítios devem ou não frequentar.

Mensagens contraditórias?

Do lado das empresas, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal diz à TSF que compreende que o país ainda não vive um período normal, mas acredita que há uma contradição entre o esforço do Presidente da República e do Governo para as pessoas irem ao comércio, nomeadamente aos restaurantes e cafés, e a indicação expressa na lei do dever cívico de recolhimento domiciliário durante, pelo menos, mais duas semanas.

João Vieira Lopes fala num problema de comunicação e diz que a mensagem global devia mudar, parecendo ser, hoje, contraditória, recordando as mensagens a meio das auto-estradas com a assinatura da DGS para que as pessoas fiquem em casa.

Pela Confederação do Turismo Português, o presidente, Francisco Calheiros, compreende a existência destas duas mensagens paralelas.

O representante do setor fala num "equilíbrio extraordinariamente difícil entre saúde pública e economia" e sublinha que desde o início tem destacado que um dos maiores problemas desta pandemia é a incerteza e desconhecimento sobre mesma.

"O cuidado com o desconfinamento é importante", defende Francisco Calheiros, pois "uma ligeira imprudência pode levar a que a epidemia arranque outra vez". No outro extrema do problema, "cautelas a mais e o país colapsa pois estamos há praticamente três meses parados".

Razões que levam a Confederação do Turismo Português a concordar com a estratégia do Governo de tentar reanimar a economia, mas esperar um pouco para que em junho tudo ou quase tudo volte a ser reaberto: "A mensagem que todos temos de interiorizar é irmos abrindo", conclui Francisco Calheiros.