Amareleja já ultrapassou a barreira dos 40 graus por vários dias em julho, mas este verão não é o calor que preocupa a população surpreendida com dez casos positivos de Covid-19. Quase de um dia para o outro. Na vila em que nem se usava máscara nos espaços fechados, de repente instalou-se o medo entre os habitantes que passaram a evitar sair à rua. As rotinas mantêm-se apenas às primeiras horas da manhã.
António Relva, dono café Cotovelo, assume que apanhou um "valente susto" quando soube que um dos clientes da casa testou positivo à Covid- 19. Vai para três semanas, mas a partir daí a vida mudou entre os habitantes da Amareleja.
"Ele esteve ali sentado, sem saber que tinha o vírus", conta António Relva à TSF, revelando que teve de fazer o teste. "Dei negativo, mas tive o café fechado muito tempo. Só abri domingo", diz, lamentando a falta de clientela por estes dias. "As pessoas fogem dos ajuntamentos, porque andam com medo disto e não se sabe o que vai dar", sublinha.
O café só não está vazio, porque Joaquim Nunes acaba de entrar e encosta-se ao balcão, retirando a máscara para pedir uma "cerveja gelada". Assume que já esteve tentado a ficar mais por casa, mas prefere "levar a vida em frente", alegando que "não se pode pensar que vamos apanhar o ´bicho´, porque isso faz mal à cabeça".
Já o café de Paulo Sérgio está mesmo vazio e não há autorização da gerência para se estar ao balcão. As medias foram apertadas desde que a família ficou de quarentena, porque também por aqui andou alguém que acusou positivo.
"Eu, a minha mulher e a minha filha fomos fazer o teste. Estávamos negativos, mas foi uma aflição", relata, assumindo que percebeu o alerta. "O máximo aqui dentro são seis pessoas e só entra quem usar máscara. É apanhar a bebida ou comida e pode sentar-se lá fora. Não podemos facilitar, porque percebemos que o problema é muito sério", resume.
Já passa das 18.00 horas e as ruas da Amareleja continuam vazias, debaixo de uns tórridos 37 graus. Num dia dito normal as esplanadas teriam clientela para a hora do lanche, mas os dez casos de Covid-19 levaram a população a manter rotinas apenas de madrugada.
É o que diz António Baltazar, dono da pastelaria lá da terra. "Por volta das cinco da manhã é quando as pessoas começam a chegar aqui para tomarem o pequeno almoço. O serviço aperta até seis e depois acalma", revela o empresário, admitindo que "a vida mudou na Amareleja desde que isto aconteceu".
Só Luísa Maria contraria a tendência nas ruas desertas. Anda nas pinturas da casa e nem o medo novo coronavírus a demove de garantir paredes brancas para o verão. Ainda assim os dez casos de Covid-19 impedem-na de ter a mãe a ajudar. "Tem 88 anos e não a vejo há mais de um mês. Está a da minha irmã e tenho receio de apanhar o ´bicho´ e lhe pegar alguma coisa", assume.
A Junta de Freguesia é que não tem tido mãos a medir para responder a quem mais precisa. O presidente Joaquim Ferreira revela que "contacta diariamente" todas as pessoas infetadas para levar bens de primeira necessidade a quem está em isolamento, tendo também já adquirido uma máquina de desinfeção "para limpar os espaço comerciais".
Outra das ações da junta passa pela recolha do lixo das pessoas infetadas. A Câmara de Moura disponibiliza contentores para as famílias e a Junta faz a recolha diferenciada, para minimizar riscos de contágio.
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