Gonçalo e Sara ilustram a tendência dos visitantes espanhóis no regresso a Elvas ao longo destas quatro semanas, onde a assumida "falta de confiança" se faz sentir no comércio.
As fronteiras reabriram há um mês, mas os comerciantes de Elvas estão a lamentar a ausência dos clientes espanhóis. Um empresário contabiliza à TSF um prejuízo ao balcão na ordem dos 90% face ao ano passado. Já a restauração tem conquistado a confiança espanhola, embora pelas ruas da cidade se encontrem turistas que optam por dormir e comer a bordo da autocaravana.
Gonçalo e Sara acabam de chegar a Elvas, oriundos de Madrid, e preparam-se para visitar as muralhas da cidade, classificadas como Património Mundial, antes de seguirem viagem para o Algarve. É de máscara na cara que o casal revela a estratégia para garantir distanciamento social para umas férias em segurança em tempos de pandemia. "Viemos numa autocaravana, onde dormimos sempre e comemos a maioria das vezes. Não quer dizer que uma ou outra vez não possamos ir a um restaurante", diz Gonçalo.
Sara revela que além de terem "estudado o itinerário" que vão percorrer pelo Sul do país, desta feita, antes de partirem de Madrid, também quiseram saber quais são as medidas de segurança aplicadas em Portugal, anunciando que vai "evitar ao máximo a entrada em lojas".
Gonçalo e Sara ilustram a tendência dos visitantes espanhóis no regresso a Elvas ao longo destas quatro semanas, onde a assumida "falta de confiança" se faz sentir no comércio.
"Havia esperança perante a reabertura da fronteira, mas, infelizmente, não se confirmou", lamenta Eurico Santana, dono da Casa Guadiana, contabilizando "uma quebra de 90% de espanhóis ao balcão face ao mês de julho de 2019", o que o tem levado a apostar na promoção digital dos artigos, conseguindo vender alguns produtos para o lado de lá da raia.
Numas portas ao lado, o vizinho Pedro Trinidad, gerente de uma loja de roupa, fala de uma adaptação aos novos tempos. "No meu ramo, em particular, trazia vantagens a fronteira estar fechada", sublinha, justificando que os moradores de Elvas passaram a procurar mais o comércio local. "Em contrapartida, a abertura da fronteira não veio prejudicar muito, porque esta situação levou-nos a relocalizar e a conseguir trabalhar os nossos clientes", diz o empresário.
Já para a restauração a "vida" corre melhor, sobretudo desde há duas semanas. Tânia Couto, dona de um restaurante com esplanada na central Praça da República, testemunha que aos poucos os clientes espanhóis lá vão chegando "à procura de bacalhau".
A empresária relata à TSF que os primeiros dias, após a abertura da fronteira, até estranhou a ausência do castelhano pelas ruas da cidade. "Fomos notando a chegada dos espanhóis com o passar do tempo, porque, tal como nós tivemos receio, eles também tiveram, principalmente ao princípio", sublinha, admitindo que a esplanada tem agora garantido maior procura.
O presidente da Câmara, Nuno Mocinha, mantém que Elvas e Badajoz não podem voltar a viver com a fronteira fechada e pede tempo para que a confiança seja reposta. "A confiança vai-se ganhando pouco a pouco, porque não está igual", assume o autarca, admitindo que Elvas "sem o outro lado da fronteira não é igual. Diria, inclusive, que não sobrevive", acrescenta, ressalvando que também Badajoz tem muito a perder sem o acesso a Portugal.
Explica que o outro lado da raia não depende só de Elvas, mas de muitos portugueses de vários regiões do país que ali se deslocam regularmente às compras. Nuno Mocinha exemplifica que "há superfícies comerciais onde os portugueses significam um volume de vendas de 25%". Um valor significativo que já levou, inclusivamente, os comerciantes de Badajoz a lamentarem publicamente a falta dos clientes portugueses.