Sociedade

"Ninguém consegue sobreviver com 438 euros." Os rostos do desemprego no Algarve

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Em setembro, a região do Algarve atingiu um aumento de 157% no número de desempregados, face ao mesmo período do ano passado. Albufeira é o concelho mais afetado.

António trabalhava como barman. Em março deste ano tudo mudou. O bar fechou e ficou sem emprego. "Desde 16 de março", conta. Desde essa altura está a receber subsídio de desemprego que deverá terminar no próximo mês. António está na fila do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) exatamente para saber se quando lhe acabar o subsídio de desemprego terá direito a mais alguma subvenção.

Ali, bem perto, ficam sediadas as instalações da Segurança Social e é lá, que Ana tenta preencher um papel na rua, sobre um muro. Um documento para requerer ficar isenta das taxas moderadoras. Ana, 61 anos, trabalhava numa tabacaria. Acabou o contrato e ele não foi renovado. Já está habituada a ficar no desemprego durante o inverno. "Fazem contratos de 7, 8, no máximo 9 meses", lamenta. Estima ficar parada pelo menos até março, " na melhor das hipóteses". "É um ciclo. E agora com a Covid ainda é pior", afirma.

Durante a época baixa, e devido à pandemia, o hotel em que Carlos trabalhava esteve fechado.

Abriu apenas dois meses durante o verão e voltou a encerrar. "Não havia clientes", explica. O grupo hoteleiro deslocou todos os turistas para um único hotel da empresa e fechou aquele onde Carlos era funcionário. Também ele está na fila do Centro de Emprego.

As histórias são quase todas iguais. Hotéis, restaurantes, lojas que fecharam e deixaram pessoas no desemprego. À porta do IEFP veem-se também muitos cidadãos brasileiros que trabalhavam na hotelaria. Zeida é um desses casos. De um dia para o outro ficou sem trabalho. "Agora estou esperando que no próximo ano já não tenha esse coronavírus e consigamos trabalhar. Ninguém consegue sobreviver com 438 euros", afirma. A maior parte dos salários são baixos e os subsídios de desemprego avaliados pela mesma bitola.

Maria é outra brasileira que já não quer ficar no País que a acolheu. Volta para o Brasil em Dezembro."Pelo menos lá a minha família não está desempregada", conta. " Aqui nem para os portugueses há trabalho! Em Albufeira as lojas, bares, restaurantes, hotéis, está tudo fechado".

Antes que chegue a vez de António ser atendido pelos funcionários do Instituto de Emprego pergunto-lhe se tem alguma perspetiva de arranjar trabalho." Em quê?", questiona. "Vou esperar por melhores dias", afirma desalentado.

O presidente da câmara de Albufeira revela que os pedidos de ajuda à autarquia têm vindo a aumentar. A autarquia tem vindo a fornecer vários tipos de apoio, quer às famílias, quer aos empresários. "Estamos a apoiar cerca de 340 famílias em termos de alimentação", revela o autarca

José Carlos Rolo diz também que o apoio aos medicamentos subiu bastante. "Em janeiro apoiávamos 100 pessoas, agora são 280", e no apoio ao arrendamento subiu de 116 para 167 as famílias que precisam de ajuda.

Os pequenos empresários, sócios gerentes e profissionais liberais também tiveram apoio da autarquia, num subsídio de 2 mil euros, num montante global de 1 milhão e 100 mil euros.

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