Representantes do comércio local temem consequências económicas muito graves devido às novas restrições.
O horário de funcionamento do comércio em pleno estado de emergência esteve em debate, esta quinta-feira, no Fórum TSF, com várias associações de comerciantes a pedirem tratamento igual e mais clareza ao Governo. Maria de Lurdes Fonseca, da União das Associações de Comércio e Serviços, da região de Lisboa e Vale do Tejo, critica a discriminação que diz existir entre o comércio local, que tem de fechar ao fim de semana, e os hipermercados, que até podem abrir portas mais cedo.
"Todos nós sabemos que nos hipermercados se vendem todos os produtos, não só bens essenciais. Compreenderia se, à semelhança do que foi feito noutros países, nomeadamente em França, que poderiam estar abertos para bens essenciais, mas que todos os outros produtos não poderiam ser vendidos. É uma das hipóteses que poderia estar em cima da mesa para não criar uma descriminação", explicou à TSF Maria de Lurdes Fonseca.
Limitar as vendas nas grandes superfícies a bens essenciais é uma hipótese admitida pela União das Associações de Comércio e Serviços. Se não for assim, Maria de Lurdes Fonseca acredita que as consequências económicas vão ser muito graves para o pequeno comércio.
"O verão foi mau. No Natal, normalmente o comércio está sempre aberto para se poderem fazer as compras ao fim de semana, em novembro e dezembro", recordou a representante da União das Associações de Comércio e Serviços.
Pela Associação Portuguesa dos Centros Comerciais, António Sampaio de Mattos deixa um pedido ao Governo para que também estes estabelecimentos comerciais possam abrir mais cedo.
"Temos vindo a dizer que, face a esta situação, era importante, sem alterar o princípio do confinamento a partir das 13h, pelo menos permitir que as lojas dos centros comerciais possam abrir a partir das 8h. Com isso pretende-se alargar o período de funcionamento, caso contrário fica condicionado das 10h às 13h, que é muito pouco para a quantidade de pessoas que poderão ter necessidade de fazer as suas compras", afirmou António Sampaio de Mattos.
Também a Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo considera que há uma grande confusão em torno das medidas do Governo. António Condé Pinto pede alguma clareza.
"O que pedimos ao Governo é que, olhos nos olhos, diga ao setor com o que é que pode contar neste momento de tão grande instabilidade. Vivemos, de facto, um verdadeiro terramoto económico e social e lembra-me o que disse Marquês de Pombal, que é preciso tratar dos feridos mas também cuidar dos mortos. O Governo sabe, como todos sabemos, que há milhares de empresas não vão sobreviver", pediu António Condé Pinto.
A questão dos horários começou pelos pedidos da restauração para que pudessem funcionar até às 15h ao fim de semana, uma ideia rejeitada por António Costa e que continuou com a decisão da Jerónimo Martins de antecipar a abertura das lojas Pingo Doce para as 6h30. Esta situação leva o presidente da AHRESP a afirmar que o que vai acontecer sábado e domingo é concorrência desleal. Por isso, Júlio Fernandes pede tratamento igual para todos.
"Têm de haver regras iguais para todos, não podemos aceitar que se possa ir ao supermercado buscar uma refeição e não se possa ir a uma churrasqueira, a um restaurante ou a uma cafetaria o mesmo comer. Agora o problema coloca-se na questão financeira. A AHRESP tem vindo a dizer ao Governo que é necessário e urgente haver novas medidas. O primeiro-ministro já as anunciou, mas até agora não há absolutamente nada nem sequer a AHRESP tem sido avisada de que vai ser consultada", revelou Júlio Fernandes.