Economia

Uma crise sanitária passageira com efeitos permanentes na economia

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

O aumento da dívida pública e as desigualdades sociais são os efeitos permanentes ao nível da economia, causados por uma crise sanitária passageira destruidora de empregos e que conduz à mobilidade laboral.

Num discurso durante uma conferência online, esta segunda-feira, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, quis deixar um desafio para o desenho de políticas públicas no quadro de uma crise que vai passar, mas que é exigente e terá efeitos permanentes.

"Não é temporário, desde logo, o aumento da dívida pública e privada. Mantém-se um nível de dívida pública que vinha a reduzir-se no período anterior à crise, mas que agora tem aqui um salto menor, que os economistas gostam de descrever como discreto, no nível da dívida pública", argumenta Mário Centeno.

Além da dívida, vai permanecer uma nova desigualdade numa geração que, pela primeira vez, vive duas grandes crises em menos de dez anos. Por isso, "mais do que nunca, as novas políticas devem atuar na margem".

"Os níveis de dívida tornam proibitivas intervenções massivas nos apoios sociais. Os apoios devem ser focados, devemos evitar a todo o custo apoiar projetos empresariais inviáveis e devemos concentrar os apoios nos trabalhadores com maior dificuldade de inclusão no mercado de trabalho pós pandémico", defende também Centeno.

Assim, devem ser incentivados os apoios ao emprego em novos setores, porque "a fase final da retoma é caracterizada por um ativa reafetação de emprego entre empresas e entre setores. Esta é a evolução natural. Há um aumento que está ligado à melhoria da produtividade. Esta realocação deve ser apoiada e não devemos ter políticas que se constituam como barreiras a esta mobilidade", concluiu Mário Centeno.

Esta seria "uma mudança que não despromova o rendimento dos trabalhadores". Com apoios públicos que devem ser temporários e não permanentes, atacando políticas de capital humano e do mercado de trabalho, passando pelas medidas de concorrência e regulação.