A possibilidade de apenas os concelhos de alto risco passarem a ter recolher obrigatório ao fim de semana foi o tema em destaque no Fórum TSF desta quarta-feira.
Portugal tem menos de 30 concelhos com mais de 960 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes e, a confirmar-se o cenário avançado esta terça-feira pelo líder parlamentar d'0s Verdes, o Governo poderá excluir mais de uma centena de municípios da obrigação de recolher obrigatório ao fim de semana. A confirmar-se, o Governo subirá a fasquia dos 240 casos por 100 mil habitantes para os 960 casos por 100 mil habitantes. No Fórum TSF, o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar avisou que é prematuro aliviar já as medidas de confinamento e lembrou que a situação muda muito de concelho para concelho.
"Não pode ser a mesma coisa estarmos a confinar quando temos 200 casos por 100 mil [habitantes] ou 500 por 100 mil ou 1000 [casos por 100 mil habitantes] ou 3000 [casos por 100 mil habitantes]. Há situações muito diferentes no país. Na altura, quando se decidiu [o limite dos] 240 por 100 mil, eu achei que era melhor do que nada, mas há vários degraus. Há localidades onde a situação é completamente diferente de 240", sustenta Rui Nogueira, entrevistado pelo jornalista Manuel Acácio.
Também no Fórum TSF, o virologista Pedro Simas considera que faz sentido dividir os municípios com mais casos de contágio: "É inteligente ter medidas em função do número de casos ativos em determinadas regiões."
Pedro Simas lembra, contudo, que "isto é uma aprendizagem", ou seja, "estamos a tentar procurar encontrar um equilíbrio que vai entre proteger ao máximo os grupos de risco e a vida humana e o Sistema Nacional de Saúde e, por outro lado, proteger também a saúde e a vida das pessoas não confinando". "Este equilíbrio pode depender de região para região", acrescenta.
O virologista considera que estamos a atravessar o momento mais difícil "de uma maratona", mas que a maior parte do caminho já está percorrido: "Se calhar já corremos dois terços da maratona, porque vêm as vacinas. É uma altura em que os atletas se sentem cansados, fatigados. É a altura mais difícil, que vai gerar divisões na sociedade e vai gerar tensão nos próprios países em relação às vacinas. É uma altura em que se tem de manter a cabeça fria."
Já o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia considera que esta divisão de municípios pode ser perigosa e confundir as pessoas.
"Eu já vi muitos colegas a festejar, entre aspas, uma redução de números e, de repente, na semana seguinte ter os números a subir de novo. Esta abordagem concelhia tem um perigo enorme e a culpa desta abordagem é da DGS, que desde o primeiro dia desatou a publicar diariamente um ranking de concelhos", remata.