Tinha preparado a minha opinião de hoje sobre a vitória Democrata no estado da Geórgia e também a resistência de alguns Republicanos relativa à confirmação dos votos do Colégio Eleitoral pelo Congresso. Claro está que Trump é sempre capaz de surpreender pela negativa. As imagens de ontem são chocantes, sem dúvida, mas não são inesperadas. Na verdade, tendo em conta os movimentos extremistas, o acesso a armas e a legitimidade dada por Donald Trump à «fraude eleitoral», estava à espera de bem pior.
Aquelas imagens simbolizam um profundo desrespeito pelas instituições, pelas regras e pelo Estado de Direito.
Em primeiro lugar, o que aconteceu em Washington não é o resultado das eleições de Novembro, mas sim a consequência de quatro anos de Donald Trump. Mais ainda, do Partido Republicano, que foi cúmplice e colaboracionista de tudo ao longo deste mandato. O Senador Mitt Romney é uma das excepções honrosas, tal como Bill Kristol, David Frum e outros Republicanos decentes. Devo confessar que ao ler as declarações recentes dos Senadores Mitch McConnell e Ted Cruz só consigo pensar em uma palavra: hipocrisia. Aliás, Ted Cruz andava numa azáfama a tentar liderar a rejeição de Joe Biden no Congresso.
Em segundo lugar, aquelas imagens simbolizam um profundo desrespeito pelas instituições, pelas regras e pelo Estado de Direito. Para além da invasão do Capitólio, da destruição e confusão, foram encontrados e desactivados engenhos explosivos. Com tudo isto eu não conseguia parar de pensar em 1814 quando os «suspeitos do costume», ou seja, as tropas britânicas ocuparam, saquearam e incendiaram Washington. A comparação é evidentemente exagerada, pois os EUA estavam em guerra.
Imagino que no Kremlin e em Zhongnanhai os dirigentes russos e chineses estejam muito contentes e gratos a Donald Trump e ao Partido Republicano.
Mas, ainda assim, faz-me pensar e muito sobre a importância das instituições, tal como esta frase de Joe Biden numa das suas mensagens no Twitter: «Hoje foi uma lembrança dolorosa de como a democracia é frágil». Esta constatação é também importante porque temos assistido, em particular na última década, ao reforço de regimes ditatoriais no mundo. Imagino que no Kremlin e em Zhongnanhai os dirigentes russos e chineses estejam muito contentes e gratos a Donald Trump e ao Partido Republicano.
Em Portugal, tivemos e temos muitos a aplaudirem Donald Trump, a «contextualizar» o seu estilo e a sua «frontalidade».
Por último, embora este seja um momento triste para quem acredita na democracia liberal, há um caminho a seguir. Para mim, esse é evidente há muito. Desenganem-se aqueles que pensam que ao cooptarem conseguem controlar extremistas seja nos EUA, em Portugal ou em Espanha. Em Portugal, tivemos e temos muitos a aplaudirem Donald Trump, a «contextualizar» o seu estilo e a sua «frontalidade». E agora, Trumpistas?
*A autora não segue as regras do novo acordo ortográfico