Economia

Mário Centeno defende que medidas de apoio não devem ser eternizadas

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal AFP

Governador do Banco de Portugal defende que os apoios só devem ser levantados quando houver um quadro de crescimento económico sustentado no horizonte. Centeno revela que poupança das famílias e empresas cresceu durante a pandemia.

Com o aumento significativo dos novos casos e do número de mortos por Covid-19, os portugueses foram obrigados a regressar ao dever geral de recolhimento domiciliário. O novo confinamento volta a ter impacto negativo na economia portuguesa.

No entanto, os dados da primeira e segunda vaga deixam o governador do Bando de Portugal (BdP) com um pensamento positivo em relação a uma rápida recuperação do crescimento.

Na Grande Entrevista da RTP, Mário Centeno, que está no banco central desde julho, revelou que "em todos os momentos de desconfinamento, de emprego, consumo, do investimento, foi automática e foi muito forte". "Todas as previsões económicas foram sendo revistas ao longo do tempo pela reação que as economias tiveram", salientou o governador.

Para este dado, que não tinha sido previsto pelos bancos centrais, o governador do Banco de Portugal diz que "as políticas implementadas, quer na Europa, quer nos EUA, foram eficazes para combater os efeitos imediatos da pandemia". E a economia portuguesa não foi exceção.

Centeno indicou que o quarto trimestre de 2020 foi revisto em alta. "Houve capacidade de adaptação muito significativa das economias, empresas e trabalhadores à situação difícil em que ainda hoje nos encontramos, na sua capacidade de produzir", explicou.

Perante o agravamento da pandemia, o ano de 2021 começou com um novo confinamento, que o Presidente da República já admitiu que deverá ser prolongado até março. Questionado sobre se a medida irá prejudicar a recuperação, Mário Centeno lembrou que o FMI reviu em alta as previsões para a zona euro. "Isso é um sinal de que, apesar deste início com algumas dúvidas, a tendência de crescimento continua a estar presente", frisou, acrescentando que "é mais difícil" fazer previsões a curto prazo do que a médio prazo.

Antes da saída do Governo, Mário Centeno foi o autor de algumas das medidas de retoma da economia. O governador entende que estas medidas devem continuar a ser "ajustadas a uma crise temporária".

"As medidas de apoio são temporárias, seria um péssimo sinal se fossem eternizadas", explicou, sublinhando que só devem ser levantadas quando houver no horizonte um crescimento económico "sustentado".

"Temos um mix de políticas que na verdade não difere muito daquele que existe noutros países, temos de o ir trabalhando e adaptando aos momentos da crise que vivemos. Infelizmente ainda não estamos num ponto em que os possamos deixar. Não devemos fazê-lo", alertou porque isso teria consequências, sobretudo, no desemprego.

Famílias e empresas aumentaram poupança

A situação de incerteza deixou algumas famílias e empresas numa situação muito crítica do ponto de vista económico. As moratórias foram implementadas para evitar uma crise ainda maior.

O governador do Banco de Portugal garante, que com os dados que dispõem ao dia de hoje, os bancos não terão problemas. Por outro lado, Mário Centeno afirmou que o nível de poupança, quer das famílias, quer das empresas, aumentou.

"A poupança cresceu em Portugal, passou de 7% para 13,4%, do lado das famílias mas as empresas também aumentaram a poupança e isso é um fator em contraste com o que aconteceu em 2008. Os depósitos das empresas no sistema bancária cresceram 10%", referiu.

"Esta almofada financeira existe, foi criada e está lá para fazer face a eventuais necessidades, ao prolongamento da crise e seguramente também ao período de recuperação que aí vem. Por um lado aprendemos muito com a crise financeira anterior e por isso os agentes económicos comportam-se de forma distinta de forma mais cautelosa", explicou.