Sociedade

Médicos alertam para necessidade de acompanhar doentes pós-Covid

Pedro Correia/Global Imagens

Sob pena de ficarem com sequelas ou doenças crónicas, é necessário acompanhar e avaliar os doentes Covid numa fase posterior da infeção, mesmo os que não necessitaram de internamento.

O alerta é feito por vários médicos, que defendem que os casos menos graves de Covid-19, mas que ainda manifestam sintomas, devem ser reavaliados por uma equipa multidisciplinar. Neste processo, o período entre as seis a oito semanas após a infeção é fundamental.

Todos os dias há dados novos, mas fadiga, cansaço, défice de atenção e concentração ou problemas de sono são as queixas mais comuns de quem esteve infetado com Covid-19. Ângela de Campos Gonçalves, especialista de Medicina Geral e Familiar da Consulta Pós Covid do Hospital CUF, explica que grande parte destes doentes não necessitaram de internamento e não têm acompanhamento médico.

"O nosso receio é que estes doentes - por não serem tão valorizados, por estarmos mais focados noutros quadros - possam passar-nos algumas coisas e têm passado. Quando vamos fazer a reavaliação destes doentes, há dados objetivos que nos levam a pensar que, em termos de função respiratória, nas provas funcionais, pode haver perda... perda que pode ser recuperada, se trabalharmos nesse sentido. Queremos evitar perder estas pessoas que possam ter ficado mais de lado por não terem tido quadros com tanta gravidade", adianta.

Ângela de Campos Gonçalves sublinha que a avaliação médica precoce permite antecipar problemas: "Temos percebido que há pessoas que ficam não só com um quadro de fadiga pela própria infeção em si, mas, quando temos testes funcionais, têm algum défice. Seja pelo agravamento de alguma patologia prévia ou porque, em termos de função respiratória ou cardiorrespiratória, ficam com défices que podem ser abordados no sentido de não se tornarem sequelas permanentes. Aqui entra a multidisciplinaridade da consulta".

O número de doentes com sintomas após a infeção é crescente, pelo que a CUF sentiu necessidade de criar a consulta pós-Covid. "Fará sentido fazer uma reavaliação do doente entre as 6 e as 8 semanas após a infeção, dependendo muito da sintomatologia que ainda possa apresentar, este é um bom timing para ver possíveis consequências que possam ter decorrido da infeção. Às 6, 8 semanas é possível fazer uma avaliação mais global e não só focada na questão respiratória ou na infeção que pode ter deixado outros sinais."

Ângela de Campos Gonçalves diz que na consulta pós-Covid estão a fazer um registo de todos os doentes, mas ainda é prematuro dizer qual a percentagem de infetados que terá sequelas devido ao coronavírus.

Um estudo realizado no Reino Unido indica que os doentes que receberam alta hospitalar após Covid-19 enfrentam taxas elevadas de disfunção de múltiplos órgãos, como os pulmões, o coração, o cérebro, o fígado e os rins.

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