Bloquistas críticos da direção de Catarina Martins apresentam moção "Enfrentar o empobrecimento - Polarizar à esquerda". Entre as críticas, "o excessivo parlamentarismo", a desvalorização do trabalho autárquico e a relação com o PS.
São cerca de 500 militantes a subscrever a moção "Enfrentar o empobrecimento - Polarizar à esquerda" e que uma ala crítica da direção de Catarina Martins vai levar à próxima convenção do partido no mês de maio. E as críticas são muitas.
Em ano de autárquicas, a dirigente bloquista Ana Sofia Ligeiro aponta que, na discussão e elaboração da moção, foi reforçada a "convicção de que há no partido a desvalorização do trabalho local e autárquico e que este é um fator de desmobilização das bases, a par do centralismo, da verticalização, da funcionarização e de um excessivo parlamentarismo".
"Consideramos que enquanto a direção reservar para si a discussão política e as decisões sobre o rumo do Bloco e der às concelhias a função de agitação e colagem de cartazes, estaremos perante uma desvalorização do trabalho de base e a hipotecar a sua capacidade de intervir na luta social, nos movimentos sindicais e na luta ambiental", sublinha esta dirigente que apresentou a moção numa sessão por videoconferência.
Já no cenário da relação com o PS, a própria moção vai longe nas críticas: "no caminho até à disputa eleitoral de 2019, o PS tinha de ser confrontado com um novo caderno de encargos, em vez do minimalista acordo inicial, mas o Bloco optou por defender a estabilidade como um valor em si e o prolongamento de uma solução institucional com o PS como eixo central da sua estratégia, secundarizando o seu próprio programa eleitoral".
Lê-se ainda no documento que a estratégia da atual direção "orientou-se para garantir laços políticos institucionais com o PS, que não conseguiu, não alcançando o objetivo de 'ser força de governo, com uma nova relação de forças' traçado na XI Convenção Nacional".
Ora, o subscritor João Madeira aponta que a atual direção necessita de fazer uma balanço da estratégia e da ligação aos socialistas porque diz ser necessário perceber porque é que o partido se "deixou envolver em conversações com o PS numa altura em que o PS, claramente, não só rejeitou uma nova edição" da geringonça, como "descartou completamente" as propostas apresentadas.
Revendo-se no voto contra o OE2021, este bloquista critica a opção de o voto contra ter sido "praticamente no limite". "Deixou-se que as coisas fossem até praticamente ao limite, à espera de um acordo que se estava a verificar que não se ia encontrar", sublinha complementando a ideia de Ana Sofia Ligeiro de que "há muito que se impunha um novo conjunto de propostas e exigências ao governo socialista".
Para estes militantes, "o Bloco tem perdido iniciativa política e precisa de a recuperar", daí a inserção da palavra "polarizar" no título da moção, pois o objetivo é "retomar a iniciativa" e "estabelecer o diálogo".