Fez muito bem o Governo em avançar desde já com o regresso à escola até ao primeiro ciclo, crianças até aos 10 anos, e até podia e devia ter ido mais longe. E se quis dar datas a um plano que vai viver no fio da navalha, mal se percebe que as esplanadas abram primeiro que as escolas para os jovens com mais de 16 anos. É isso mesmo, as esplanadas vão abrir na mesma data que as escolas do segundo e terceiro ciclo e antes do secundário e universidades.
O Governo, que tem afirmado repetidamente querer dar toda a prioridade à escola, trata-a como se fosse uma qualquer atividade económica a precisar de fazer uns trocos para sobreviver. Uma vez mais, vê as crianças e os jovens como o isco perfeito para manter os pais controlados e em teletrabalho.
Acresce que este plano é falacioso. Apresenta-nos datas que só servem se, por milagre, os números se mantiverem, em desconfinamento, iguais aos que conseguimos com um confinamento severo. Os novos casos diários estão nos 105 por 100 mil habitantes e o conta-gotas deixa de funcionar aos 120. O índice de transmissibilidade está nos 0,78 e o progressivo desconfinamento fica suspenso se chegar ao 1.
Assim sendo, e sabendo igualmente que a decisão de parar ou mesmo regredir no alívio das medidas será feita a nível concelhio, importa lembrar que o plano foi anunciado com uma média nacional de 105 novos casos por 100 mil habitantes, mas há concelhos que, neste exato momento, têm mais de 480 novos casos por 100 mil habitantes. Na consulta que fiz ontem à noite ao site da DGS para ver o mapa de risco, contei seis concelhos nestas circunstâncias, duas dúzias acima dos 240 e dezenas acima dos 120. Concelhos que, confinados, não foram capazes de descer abaixo dos 120, espera-se que o consigam fazer agora que vai começar o desconfinamento. Nem precisávamos que os peritos nos estivessem a repetir isto a toda a hora, de tão básico que é, para sabermos que numa doença contagiosa, quando aumentamos os contactos entre as pessoas, aumentamos os contágios. Consulte o mapa e veja se o seu concelho não é daqueles que dificilmente vai sair da primeira etapa.
Como parte significativa deste plano parece ter perna muito curta para fazer o caminho, poderia, pelo menos, haver da parte do Governo a garantia de que o ensino presencial vai voltar para ficar, mesmo que mais dia, menos dia, o resto do país tenha de voltar a confinar.