Há muitos motivos para que o primeiro-ministro possa estar neste momento a fazer listas de ministros e de secretários de Estado. A promover e a despromover. E todos óbvios, com pastas óbvias, a começar no Ministério da Administração Interna, de Eduardo Cabrita, cujas constantes decisões, indecisões e declarações sem um fio condutor, contraditórias, atamancadas, e muitas vezes arrogantes, já não são nefastas apenas para ele, são-no sobretudo para António Costa.
O atropelamento mortal na A6 do trabalhador de 43 anos Nuno Santos, pela viatura oficial do ministro, não é só um episódio dramático de que ninguém está livre. Revela, sim, pelos esclarecimentos demorados e aparentemente contraditórios com informações entretanto vindas a público, dificuldade em perceber que há um momento para tudo, até para ter empatia.
António Costa não tem condições para o manter. E retoma-se a questão da remodelação, profunda ou apenas de cosmética.
Os nomes são muitos e denunciam governantes cansados, ancorados quase exclusivamente na figura tutelar do primeiro-ministro, para lá do que é razoável em qualquer executivo. Não seria por isso de estranhar mudanças profundas na orgânica, com a criação de um vice-primeiro-ministro, que pudesse libertar o chefe de Governo para o que é realmente importante e estratégico. Do ministro desconhecido do Mar, ao dos Negócios Estrangeiros que entenderá, com o fim da Presidência da União Europeia, já ter cumprido a sua missão na legislatura, a Ana Mendes Godinho, do Trabalho e da Segurança Social, que não tem conseguido pacificar o setor social. Ou, entre tantos, o ministro da Educação, não só o único destes anos de Democracia a fazer um segundo mandato, mas o decano dos seus pares europeus. Esse está sempre em todas as listas dos media, às vezes só porque sim.
A urgência de remodelar agora evitaria um cartão amarelo nas eleições autárquicas, por muito que o Partido Socialista defenda até à exaustão que estará mais em avaliação o papel da oposição do que o do Governo. Ou que se insista que no poder local só contam verdadeiramente os candidatos e menos os partidos.
Mas mais do que os nomes que entram e que saem, e a experiência dos anos de governação de António Costa mostra que essas decisões são tomadas em solidão, o país não pode de todo desperdiçar a oportunidade dos fundos europeus que começam a chegar. E de ter com urgência um governo enxuto, com ideias, mobilizado e a resolver os problemas efetivos das pessoas.