Cultura

Diários de Otsoga: o beijo de Miguel Gomes e de Maureen Fazendeiro

Rui Monteiro/DR

Um ano depois da rodagem, o filme chega esta quinta-feira às salas portuguesas. As páginas destes diários correm ao avesso da cronologia. A última cena a ser filmada é a primeira a ser vista no ecrã. São 22 dias.

"Lembras-te Maureen? Então explica...", desafia Miguel Gomes à primeira pergunta. Saber se ainda se lembravam do início da aventura de um filme, que nasceu embalado pela pandemia. Maureen Fazendeiro respondeu prontamente: "Eu lembro muito bem", e começou a contar. O tempo destes diários é também o tempo da pequena Helena, a quem o filme é dedicado. A filha do casal levou a mãe ao sofá da quinta, em Sintra, isolada do pequeno grupo de atores e técnicos que rodaram Diários de Otsoga. No ecrã tudo começa no dia 22 de agosto de 2000, aqui retomamos o princípio da história que nem guião tinha. Só um Beijo, e um beijo podia ser tudo. O filme estreia esta quinta-feira nas salas de cinema.

"Que filme é que é possível fazer com tantas restrições? Temos que ter um beijo", recorda Miguel Gomes desafiando os sentidos invertidos pela pandemia.

A cena mais corriqueira da sétima arte era tabu nos idos de maio do ano passado. O país saía do primeiro confinamento, e a vontade de " voltar a estar com outras pessoas e vivermos juntos essa experiência" foi o guião dos diários, " o coração do filme".

Maureen recorda que quando entraram na casa, uma quinta aviária em Sintra, nem guião havia, na verdade. Apenas 3 ideias " filmar um beijo, filmar uma construção e apresentar no ecrã o tempo invertido". As páginas de Diários de Otsoga (agosto escrito ao contrário) correm do fim para o princípio, embora filmadas cronologicamente, do nascer ao pôr-do-sol, "começamos num universo mais próximo da ideia da construção de um filme com os atores e depois vamos abrindo, incluindo a equipa que está por detrás do filme que vemos habitualmente no ecrã. A ficção nasceu da ideia e da experiência de estarmos juntos, da vida que foi acontecendo".

Toda a equipa mexe.

Uma carrinha que avaria, um cão que se rebola para o lado errado, um ator com dor de dentes, uma discussão absurda sobre o pequeno almoço. Tudo foi aproveitado para a escrita do guião. Até as gaiolas da quinta, que levaram os realizadores a optar pela construção de um borboletário " trabalhamos a escrita como se fosse um casulo", explica Maureen Fazendeiro.

Os atores são Crista Alfaiate, Carloto Cotta e João Nunes Monteiro. Eles dançam, trocam olhares, apanham fruta, limpam a piscina. A vida vai acontecendo enquanto a barriga de Maureen Fazendeiro cresce.

Um ano depois, a pequena Helena tem nove meses.

Estes serão os diários do seu querido mês de agosto.