Economia

Bancos reagem sem alarme ao fim das moratórias. Soluções para casos extremos "cabem ao Estado"

"Caberá ao Estado, no âmbito da sua função de proteção social, encontrar soluções para essas situações" Photo by Mufid Majnun on Unsplash

A Associação Portuguesa de Bancos assevera que as instituições que representa tudo fizeram para garantir que as famílias tinham capacidade para retomar o pagamento dos seus empréstimos, mas que a superação em casos difíceis "extravasa o campo de atuação dos bancos, aquilo que a regulação lhes permite oferecer e fazer".

No dia em que terminam as moratórias bancárias, a Associação Portuguesa de Bancos garante que as instituições que representa tudo fizeram para garantir que as famílias tinham capacidade para retomar o pagamento dos seus empréstimos. A associação desafia ainda a Deco a quantificar o número de casos em que os bancos falharam o contacto com as famílias em dificuldades, depois de a Associação de Defesa do Consumidor denunciar situações de famílias que preveem dificuldades para retomar pagamentos mas não receberam qualquer proposta dos bancos para solucionar o problema.

Catarina Cardoso, diretora-geral da Associação Portuguesa de Bancos, considera, em declarações à TSF, que este dia que marca o fim das moratórias não é de preocupação, nem de alarme. "Não entendemos que haja motivos para alarmes, para ansiedade. Naturalmente poderá haver situações de famílias e empresas, por terem sido mais atingidas pela pandemia, até situações de fragilidade económica anterior à própria crise, que poderão ter dificuldades em retomar com normalidade o serviço regular das suas dívidas aos bancos, que os bancos não conseguirão eventualmente enquadrar dentro das soluções que têm vindo a oferecer, quer a famílias, quer a empresas."

A superação dessas dificuldades "extravasa o campo de atuação dos bancos, aquilo que a regulação lhes permite oferecer e fazer", defende Catarina Cardoso. "Caberá ao Estado, no âmbito da sua função de proteção social, encontrar soluções para essas situações."

"Seria até importante que a Deco pudesse quantificar essas situações", declara Catarina Cardoso.

A diretora-geral da Associação Portuguesa de Bancos considera, por isso, que tudo tem sido feito para evitar o desrespeito pelos prazos. "Os bancos, por iniciativa própria, mas também fruto de uma medida legislativa adotada pelo Governo no início de agosto, estiveram a acompanhar, de forma muito próxima, os clientes que estiveram sob moratória. Tudo está a ser feito e tudo foi feito no sentido de evitar que famílias entrassem em situação de incumprimento. Os bancos não têm interesse que os clientes entrem em situação de incumprimento."

A diretora-geral da associação respondeu ainda aos dados divulgados esta quarta-feira pelo Banco de Portugal. A instituição revelou que recebeu perto de 400 queixas sobre a aplicação das moratórias entre janeiro e julho de 2021. Catarina Cardoso diz que esses números têm de ser contextualizados, já que, tendo em conta o universo total de empréstimos, trata-se de uma gota no oceano. "O universo de contratos que esteve sob moratória no primeiro semestre de 2021 correspondeu a 500 mil contratos. Estamos a falar de uma percentagem inferior a 0,1%, em termos de contratos de moratórias que deram origem a reclamações."

Ao todo deram entrada 388 reclamações, das quais cinco deram origem a processos de contraordenação, um número que a responsável caracteriza como "absolutamente residual".

De acordo com a lei, as instituições bancárias estavam obrigadas até ao final de agosto a analisar a situação de cada agregado familiar e a propor soluções para os que não conseguissem retomar o pagamento das prestações.

Num esclarecimento enviado à TSF, a Caixa Geral de Depósitos informa que, sobre este assunto, contactou mais de 26 mil particulares que terminam nesta quinta-feira as suas moratórias. Numa nota enviada à redação, a Caixa refere que alguns optaram por não ter qualquer medida de ajustamento e outros estão a estudar alternativas como carência ou extensão do empréstimo.

Sónia Santos Silva e Catarina Maldonado Vasconcelos