Opinião

Sem ressentimentos, porque podemos ter de voltar ao Bloco Central

Agora, que se aproxima mais uma campanha eleitoral e um regresso às urnas, convinha que os ânimos serenassem e nos predispuséssemos a aceitar o resultado, qualquer que ele seja. Se ganhar a Esquerda, governa a Esquerda. Se ganhar a Direita, governa a Direita. E os outros fazem oposição, denunciando abusos de poder, lutando para que diminuam as opções erradas, contrapondo ideologia à ideologia dos adversários, porque só com ideias tiramos Portugal do buraco em que o enfiamos faz décadas.

Sobre a necessidade de não dinamitar as pontes que se atravessam a caminho do poder, procurando impedir que os adversários se aproximem, convém lembrar que isso se deve começar por fazer dentro de casa. Não faz sentido que à esquerda se quebrem todos os laços e, menos ainda, que à direita, dentro do PSD e do CDS, se torne impossível que vencedores e derrotados acabem a defender um projecto comum.

Não se trata de enfiar a cabeça na areia e fazer de conta que não há um problema. Há um problema! Chama-se Chega e deve ser assumido por todos os partidos democráticos. Pode dar-se o caso de nem Direita, nem Esquerda fazerem maioria, ficando no meio um grupo parlamentar liderado por André Ventura que acabará por impedir a formação de uma maioria. E, convenhamos, a ideia peregrina de os obrigar a apoiar um governo de direita, de que não fizessem parte ou não negociassem uma série de concessões, só serviria para tornar o país ingovernável. Isso Ventura não dá, porque a ideia dele é assaltar o poder e, a partir daí, corromper a sociedade portuguesa com as suas políticas intolerantes e criminosas.

Se chegarmos a este ponto, convém que cheguemos com todas as pontes de pé, porque não havendo caminho para fazer nem para a direita, nem para a esquerda, podemos ter de regressar temporariamente ao Bloco Central. Os que enchem a boca para dizer que primeiro está o país e só depois os partidos, precisam de perceber que, com todos os riscos que acarreta, o Bloco Central será sempre preferível a ter o Chega no poder.

Paulo Baldaia