Um músico e compositor esteve no último ano a compor e gravar um álbum no órgão de tubos da Igreja da Misericórdia de Viseu. O instrumento musical do século XVIII inspirou durante meses José Pedro Pinto.
A "aventura" do músico na Igreja da Misericórdia de Viseu arrancou em outubro do ano passado, altura em que se sentou pela primeira vez frente ao instrumento.
José Pedro Pinto fez o conservatório em Viseu em guitarra clássica. É autodidata em órgão.
"Aprendi em casa a ver vídeos no YouTube e a treinar num teclado midi. Aqui o órgão da Misericórdia foi o meu primeiro contacto regular com um órgão real, em casa pratico no teclado midi, que me permite tocar todos dias", conta.
A paixão do compositor pelas teclas é recente, tem dois anos. José Pedro Pinto começou a tocar órgão quando musicou ao vivo, também numa igreja, três filmes para o Cine Clube de Viseu, numa experiência que o marcou.
Na Igreja da Misericórdia de Viseu, localizada no adro da Sé, em pleno coração da cidade, compôs alguns dos temas do novo disco. Outros, que já tinha escrito, ganharam uma nova roupagem.
"O álbum tem dez músicas e sete delas são rearranjos de músicas que já tinha escrito. Eu escrevo músicas para órgão há muitos anos só que estavam fechadas numa gaveta porque não sabia tocar e nem sabia onde havia de arranjar alguém para tocar. As outras três [músicas] que são as principais do álbum, as mais longas, são as que têm mais preponderância, explica".
Apesar de ter sido criado num órgão tubos de uma igreja, José Pedro Pinto não criou um disco de música sacra. Ao álbum deu, contudo, o nome de Misericórdia.
"A palavra para começar foi escolhida porque [o disco] foi gravado na Igreja da Misericórdia, mas depois fiquei muito fã da palavra, que tem uma conotação cristã muito forte, que não é uma conotação que me interesse. Pode querer dizer uma infinidade de coisas e eu gosto muito dessas palavras", vinca, acrescentando que misericórdia pode ser entendido também como um conceito autorreflexivo.
O tema mais longo e uma das novas criações também se chama Misericórdia. A música, com 11 minutos, foi composta ao longo de cinco meses e é um resumo da vida do compositor durante esse período.
"É uma música em que tive pouca mediação, ela saiu um bocado inconsciente e eu só tinha que lá estar para ir apanhado e aprendendo a tocá-la, mas foi um processo longuíssimo. Ela foi escrita em muitos episódios ao longo de vários meses", adianta.
Misericórdia e os outros nove temas são dados a conhecer ao público, em concerto, este sábado, pelas 16h30. O palco vai ser o tempo religioso onde parte das músicas nasceram.
José Pedro Pinto ambiciona agora apresentar este trabalho noutros órgãos de tubos do país. Considera que tem essa "missão".
"Eu acho que o meu trabalho agora é conseguir apresentar este trabalho noutros órgãos de tubos para perceber como é que esta música reage a ser tocada noutros órgãos", refere, evidenciando que este é um tipo de instrumento musical que não é feito em massa e que soa sempre diferente.
"Não é como uma guitarra, que vais a uma loja de música e tens sete guitarras iguais e se mandares vir da Alemanha ou China aquela modelo é igual, o órgão de tubos não é assim, todos os instrumentos soam diferentes. Não são feitos em massa, é feito de madeira e ferro e está em igrejas de pedra e então todos soam muito diferentes", vinca.
O disco é acompanhado por um filme, intitulado também de Misericórdia e que também estreia este sábado à tarde.
A fita, de 12 minutos, da autoria de Gonçalo Loureiro, não tem qualquer relação com a música de José Pedro Pinto. Os temas servem apenas de banda sonora à história.