Sociedade

"A Saúde de uma Comunidade." Uma exposição que é o retrato de um país

Câmara de Loulé/DR

Em Loulé, uma mostra sobre a saúde local na primeira metade do Século XX ganhou uma menção honrosa da Associação Portuguesa de Museologia.

Era um tempo em que existiam os médicos e as parteiras municipais que tratavam os pobres e eram pagos pelas câmaras. A sociedade de então viva com doenças que provocavam grande mortalidade. Convivia-se com a falta de higiene e o consequente aparecimento de pandemias.

Estávamos no início do século XX e surgiam alertas nos jornais que davam conta da "falta de higiene nas fontes, nas ruas onde os animais andavam à solta", conta Luísa Martins. Noutro jornal da época alguém se insurgia contra "os sifilíticos e os ranhosos que sujavam a água, e as pandemias surgiam".

Luísa Martins e João Saboia são os dois historiadores da Câmara Municipal de Loulé que conceberam e montaram esta exposição. Foram muitas horas passadas a encontrar documentos, testemunhos e até utensílios médicos que os levaram a contar uma narrativa sobre a saúde naquela terra na primeira metade do século XX. Uma história que pode ser também um retrato do País da altura e que, nalguns pontos, pode cruzar-se com os acontecimentos dos tempos atuais.

Quando surgiu a pneumónica por volta de 1916, os historiadores verificaram que à época o "administrador do concelho" fazia constantes apelos à polícia e à guarda a cavalo para manter a ordem e levar as pessoas a ficarem em casa. "Até termos sido surpreendidos com a situação da pandemia atual, era uma realidade muito distante para nós", admite Luísa Martins."Como aconteceu agora, tudo fechou, as escolas, os mercados e havia manifestações violentas por causa da fome", conta João Saboia.

A exposição dá também a conhecer que no século passado existiam os médicos e as parteiras municipais pagos pelas câmaras para tratar os mais pobres. "E os mais pobres eram mesmo miseráveis", salienta o historiador.

A mostra faz a homenagem a três médicos do concelho que se destacaram no auxílio às populações. Dá conta também de outra realidade social que é bem o retrato das desigualdades existentes na altura. Pelo Hospital da Misericórdia de Loulé ou Hospital Nossa Senhora dos Pobres, como era conhecido, só as meretrizes apareciam com doenças venéreas. Registos que os historiadores consideram ser falseados."Nos registos do hospital, os homens apareciam com outras doenças, o que é impossível, não pode ser verdade", relata João Saboia.

Na exposição pode também ver-se uma sala que fala das sezões, como era conhecida a malária.

Uma doença que afetou particularmente Quarteira, uma terra que é hoje conhecida como um centro turístico.

Numa outra sala podem ver-se os utensílios que os farmacêuticos usavam para conceber os medicamentos ou ainda as mezinhas e rezas usadas pelo povo, costumes culturais da época para afastar alguns males.