Opinião

"Aguardamos ordens de Moscovo"

Tal como no tempo da Guerra Fria, o mundo aguarda ordens de Moscovo.

As ordens que Putin der serão decisivas para a resposta do chamado ocidente. Neste 23 de fevereiro, dia das Forças Armadas russas, uma tradição herdada da antiga União Soviética, Putin voltou a mostrar a força do regime. E anunciou que o Exército outrora vermelho está renovado, equipado e pronto. Em Kiev, o antigo ator que fez de Presidente na ficção e que agora é mesmo Presidente mobilizou os reservistas - a Ucrânia que fala ucraniano está pronta para resistir. Mais cedo ou mais tarde vai acabar por perceber que ficou sozinha, isolada, entalada geograficamente entre os países da antiga cortina de ferro e a Rússia. Má sorte ter uma nação que faz fronteira com o sonho imperialista de Putin.

A NATO, os Estados Unidos, a União Europeia, todos solidários e dispostos a negociar, todos juntos a condenar (mais uma) anexação russa, a impor sanções e a apelar ao direito internacional, nenhum deles vai por um pé na Ucrânia.

Quando for a sério, os ucranianos vão estar sozinhos, com os seus soldados, reservistas e população. O ocidente não está disposto a sacrificar vidas, a colocar militares no terreno, a responder perante as opiniões públicas porque é que entrou em mais um conflito internacional. Que, depois, abandona.

Bem podem os outros países e organizações entregar armas à Ucrânia, disparar a partir de drones ou de aviões, fazer bluff com as tropas da NATO e as bases militares americanas "na região". Tal como aconteceu com a Geórgia, a Ossétia e a Crimeia, a Rússia, mesmo com sanções e tensão, ameças e condenações, está a desenvolver o sonho de retomar o imperialismo da URSS, da qual Putin é um produto de excelência.

E ele precisava disto para voltar a entrar no jogo internacional - a "guerra fria" depois dos anos 1990 passou a ser entre os Estados Unidos e a China. A Rússia ficou apenas como potência regional. Entretanto, passaram 30 anos e o antigo agente do KGB ganhou tempo, espaço e dinheiro. Putin não tem pressa, porque se perpetuará no poder enquanto quiser. E quer deixar um legado imperial.

No tempo da URSS, os partidos comunistas de toda a Europa, quando se perguntava algo sobre política internacional, davam sempre a mesma resposta: "Aguardamos ordens de Moscovo."

Hoje, a história repete-se - o mundo espera para ver o que Putin vai querer fazer a seguir. E, como sempre, reage em vez de agir, riposta em vez de prevenir, dialoga em vez de exigir.

Entretanto, na Ucrânia, há 40 milhões de cidadãos entalados entre dois mundos.

Como dizem os polacos, má sorte ter calhado neste lugar. "Trocava a minha gloriosa história por uma melhor geografia", diz um ditado polaco. É mesmo isso.

Pedro Cruz