A decisão de ficar do lado ucraniano neste conflito não oferece nenhuma dúvida, a Ucrânia é a vítima e a Rússia é o agressor. E, se isto é muito fácil de explicar numa perspectiva de cidadania, não exigindo grande elaboração, quando os cidadãos são jornalistas, é que se espera um pouco mais.
O primeiro lado que o jornalismo escolhe é o da verdade, sabendo que na guerra ela anda sempre perdida ou camuflada em nome de interesses que os beligerantes consideram superiores. Por exemplo, nas fronteiras da Ucrânia com os países que pertencem à União Europeia, muitas pessoas de cor foram vítimas de racismo. O jornalismo participou nessa denúncia e ajudou a resolver alguns desses casos, fazendo com que o ministro das Relações Exteriores ucraniano viesse salientar que todos "devem ter oportunidades iguais de retornar aos seus países natais de forma segura". Só devemos continuar atentos, para ver se a promessa se cumpre.
De igual forma, conhecemos as histórias de solidariedade e de violência porque o jornalismo está presente. Sabemos muito do que se passa de um dos lados, mas sabemos muito pouco do que se passa do outro lado, porque não vamos lá. Deixar que seja o outro lado, a Rússia do ditador Putin, a dar-nos uma versão única dos factos não parece ser solução, mas quando é que censurar, mandar calar, passou a ser a melhor estratégia? Quando é que aceitar sem debate, sem critica, o encerramento de órgãos de comunicação social passou a ser normal?
A Comissão Europeia decidiu que o canal de televisão Rússia Today e a agência de notícias Sputnik deviam ser banidos do espaço europeu e assim aconteceu, sem que se fizesse um debate prévio e mesmo sem grande vontade de fazer um debate posterior. Alega Ursula von der Leyen que "as máquinas de comunicação do Kremlin realizam ações de desinformação e manipulação de informação contra a União Europeia e os seus Estados-membros". É verdade que sim e pode até ser que se justifique a decisão, mas por que razão nem discutimos o facto de estarmos a impedir os cidadãos europeus de terem acesso à versão do lado russo? As máquinas de comunicação do Kremlin não fazem apenas manipulação, também olham para os factos e transmitem a sua versão.
Tomar posição contra a guerra, ficar do lado dos ucranianos, ajudar a vítima e condenar o agressor, faz todo o sentido. Aceitar, sem questionar, todas as decisões que tomam em nosso nome, declarando guerra ao pluralismo é que me parece um erro. Se calamos agora, ninguém nos vai ouvir quando for connosco. Basta que o censor apresente razões plausíveis.