Opinião

Outros nomes para Liberdade

Bernardo Caal Xol é um líder indígena da comunidade Maia Q"eqchi na Guatemala. É um homem de um coração enorme. Diz ele que lá caberiam todas as pessoas da sua terra. E foi por isto mesmo que este professor fez tudo o que esteve ao seu alcance para defender o ambiente e os direitos humanos da sua gente.

Quando uma empresa conseguiu do governo uma licença para bloquear o rio Cahabón e nele construir duas centrais elétricas, teve de agir para contrariar a destruição das florestas em redor e o bloqueio do rio. A sua comunidade dependia dele, do rio, para viver. O ativismo de Bernardo, embora pacífico, tornou-o um alvo para os interesses sentados no poder. Bernardo foi difamado e alvo de acusações sem fundamento. Em 2018, um juiz condenou-o a mais de sete anos de prisão, mesmo não existindo quaisquer provas contra ele. A prisão onde ficou preso distava de mais de 7 horas de viagem da sua comunidade. Isolando-o dela e da sua família, os carcereiros faziam o possível para o quebrar.

Em 2021, só de Portugal, seguram mais de 20 mil assinaturas e cartas dirigidas à embaixada da Guatemala na Suíça. Esta semana, o Bernardo foi libertado.

Há ainda outros nomes para liberdade, Magai Matiop Ngong era uma criança com 15 anos quando uma tragédia aconteceu na sua aldeia natal, no Sudão do Sul. Numa discussão de rua um vizinho foi a casa buscar uma arma. Em defesa do seu primo que discutia também, Magai fez o mesmo e para tentar acalmar as coisas premiu o gatilho em direção ao chão e o pior aconteceu. A bala fez ricochete e atingiu mortalmente o seu primo. Foi preso, foi julgado sem ter advogado e foi condenado à pena de morte por enforcamento. Uma criança.

Em 2019 mais de 700 mil cartas e assinaturas de petições foram enviadas ao embaixador do Sudão do Sul nas Nações Unidas e contribuíram para que a sentença de pena de morte dada a esta criança fosse revogada. Esperemos que em breve este jovem seja libertado.

O terceiro nome de liberdade chama-se Raif Badawi, blogger da Arábia Saudita que defendia o secularismo. Em 2012 foi condenado a 10 anos de prisão e a 1000 chicotadas em público por causa da sua escrita. Foi finalmente libertado, contudo está proibido de sair do país e se juntar à sua família e não pode utilizar redes sociais.

Tudo isto acontece na mesma Arábia Saudita que participa e alimenta a duradoura e sangrenta guerra no Iemen, guerra também ela fértil em crimes de guerra e ataques a civis.

A mesma Arábia Saudita que tem agora em Portugal uma fundação ligada ao príncipe herdeiro e já líder de facto daquele país. A fundação, dedica-se - imaginem - aos direitos humanos. Foi acolhida em Portugal pelas mais altas instâncias do governo português, ainda que pouco se tenha isso noticiado na altura, em Outubro de 2021.

Que pena não vermos a Arábia Saudita que prende e chicoteia bloggers, que retalha jornalistas, que reprime os direitos das mulheres, que persegue quem ouse pensar. Que pena não vermos a Arábia Saudita como agora se vê a Rússia! Talvez aí os nossos governantes cheios de vergonha, agissem diferente e também eles se tornassem como Bernardo, como Magai e como Raif... outros nomes para liberdade.

Pedro Neto