Opinião

Crónica de um velho do Restelo

Venho falar de más notícias, daquelas que por milagre até podem não acontecer. Se é da classe média, se é sensível, se não quer que lhe estraguem a Páscoa, se faz parte dessa imensa maioria que nunca aprende com os erros, se é um optimista incurável, mude de estação por dois minutos e regresse depois à TSF, quando eu já não estiver aqui a incomodá-lo.

Ainda está aí? Vamos lá então falar da necessidade de começar já a apertar o cinto, porque a austeridade não existe apenas por decreto governamental, também existe por inacção governamental.

Tenho de fazer um segundo aviso prévio: eu acho que o governo faz bem em ter como prioridade a consolidação das contas públicas.

A verdade é que ao não aceitar aumentos intercalares, o Executivo de António Costa e Fernando Medina, perante uma inflação de 4 ou 5%, está a cortar o salário da Função Pública na diferença entre o aumento de 0,9 e a inflação que se vier a verificar. Por cada 20 euros que ganha, um vai desaparecer.

Mas se é da classe média e tem uma casa em seu nome, que na verdade pertence ao banco, comece a poupar desde já, porque os analistas de mercados falam numa subida da Euribor na ordem de um ou dois pontos percentuais. Segundo as contas da Deco, para um pequeno empréstimo de 200 mil euros, a sua prestação pode chegar ao final do ano a custar mais entre 120 a 240 euros por mês.

É claro que aquilo que se aplica aos seus empréstimos também se aplica à dívida do Estado e, embora a gestão da dívida pública esteja controlada, volta a ser urgente reduzir o valor absoluta dos empréstimos antes que uma crise severa nos volte a bater à porta.

Se tem dívida, seja por causa da habitação, seja por crédito contraído para consumo, informe-se, vá ao seu banco e peça uma simulação para uma previsível subida da taxa de juros. Depois, se tiver necessidade, é do seu interesse e do interesse do banco: reestruture a dívida.

Até porque estamos na Páscoa, é caso para dizer: Deus queira que eu não tenha razão.

Paulo Baldaia