Sociedade

Aguieira já sem restrições. Castelo de Bode com água suficiente para abastecer Lisboa mais um ano

Barragem de Castelo do Bode registou subida de cinco metros no nível das águas, desde fevereiro Paulo Spranger/Global Imagens

Cinco barragens da EDP proibidas de produzir energia hidroelétrica, devido à seca, continuam sem poder operar, mas já há ganhos no armazenamento. Em Aguieira e Castelo de Bode, o nível da água subiu vários metros.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já levantou as restrições à albufeira de Aguieira, na zona do Mondego. A ordem foi dada na última semana, adiantou à TSF o vice-presidente da APA, José Pimenta Machado. Depois de janeiro e fevereiro terem sido os mais secos em Portugal desde que há registo, o Governo tinha, há três meses, dado ordens para suspender a produção hidroelétrica em cinco barragens do país e colocado limitações em várias albufeiras. O objetivo era garantir que não faltava água para o consumo humano. A situação de seca mantém-se preocupante, mas a medida permitiu, em algumas zonas do país, a recuperação de parte das reservas de água.

Alto Lindoso/Touvedo, Alto Rabagão, Vilar/Tabuaço, Cabril e Castelo de Bode foram as barragens da EDP que viram a produção de energia totalmente interrompida. Para já, os níveis de armazenamento de água permanecem abaixo do esperado para esta altura, pelo que a Agência Portuguesa do Ambiente não consegue prever quando será possível levantar as restrições.

"Só na bacia do Douro e do Mondego [onde os volumes de água armazenados são 80,7% e 91,7%, respetivamente] é que estamos acima da média. Nas restantes estamos muito abaixo da média, com destaque para a bacia do Lima [que se fica pelos 19,5%], Cávado [com 44,9%], Sado [55,1%], Mira [40,4%] e mesmo no Barlavento, em particular na barragem da Bravura [15,4%], temos níveis muito baixos", relata José Pimenta Machado.

Ainda assim, há ganhos a registar. Em Castelo de Bode, por exemplo, a suspensão da atividade da barragem já permitiu elevar o nível da água em 10%, desde fevereiro. "Subiu mais de cinco metros. Toda essa subida permite assegurar mais um ano de consumo para toda a região de Lisboa", adianta o vice-presidente da APA.

Na albufeira da Aguieira, no Mondego, onde agora foram levantadas as limitações, o nível da água "subiu mais de sete metros" e, neste momento, a capacidade está praticamente a 100%. "São subidas muito significativas", nota.

A recuperação do nível de água no país é, apesar de tudo, assimétrica. O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente fala numa situação de "seca estrutural" a sul do Tejo, e as previsões para o mês de maio não são animadoras. José Pimenta Machado alerta que é preciso o país estar pronto para a escassez de água.

"No futuro, vamos ter menos água, portanto, vamos ter de adaptar-nos. São os setores que têm de se adaptar àquilo que o território oferece e essa é uma realidade que temos pela frente", declara.

Para a Agência Portuguesa do Ambiente, a palavra-chave no que toca ao consumo e gestão de água tem de passar a ser "eficiência".

"Temos mesmo de ser poupados no uso da água. Temos de ser muito eficientes e combater as perdas, quer no setor urbano, quer no setor agrícola, que são os grandes consumidores de água", defende José Pimenta Machado.

A estratégia, considera o responsável da APA, tem de passar, por exemplo, pela dessalinização - um investimento já em curso no Algarve - e pelo reaproveitamento da água já utilizada. "Usar as águas das ETAR, as estações de tratamento de águas residuais, para a lavagem de ruas, para a lavagem de equipamentos, para a rega de jardins, também para a rega agrícola e, com isso, no fundo, poupar as águas naturais."

A Agência Portuguesa do Ambiente destaca ainda a importância do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a implementação de novas soluções e garante que o país tem os instrumentos e o conhecimento necessários para enfrentar a escassez de água no futuro.

Todo o território de Portugal continental estava, no final do último mês, em situação de seca, de acordo com índice meteorológico de seca (PDSI) disponibilizado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Verificou-se uma diminuição dos valores de percentagem de água no solo em quase todo o território, com o interior Norte e Centro e o Vale do Tejo e Baixo Alentejo a apresentarem mesmo valores inferiores a 20%.