Os mais velhos elogiam a medida emblemática do primeiro ano de Carlos Moedas à frente da Câmara de Lisboa. Mas os passes gratuitos não escapam às reclamações.
"Sou muito galdéria", reconhece Ilda Gomes, que todos os dias sai para um café, um passeio com as amigas, uma excursão ou uma volta pelas montras da moda. Dona de uma alegria jovial, a antiga porteira apresenta-se com uma gargalhada contagiante: "Gosto muito de viver e tenho muita pena que isto esteja a acabar. Tenho mesmo muita pena."
Aos 86 anos, Ilda elege o autocarro como meio de locomoção. Antes do passe gratuito, "comprava módulos". Agora, vai carregar o passe todos os meses, porque "a cavalo dado não se olha o dente", sublinha com nova gargalhada. "Acho muito bem" (que se carregue o passe). "Se não, qualquer dia, já os mortos andavam aí de autocarro."
Ilda Gomes é uma das lisboetas que beneficia da gratuitidade dos transportes públicos em Lisboa, uma medida que o presidente da Câmara de Lisboa define como "histórica". Desde o final de Julho, os residentes com mais de 65 anos e os jovens até aos 23 anos podem deslocar-se a custo zero nos transportes públicos da capital.
No entanto, o carregamento do passe, que tem uma área dedicada em alguns terminais, não pode ser feito em "quiosques, papelarias ou multibanco", queixa-se Rosalina Leocádio. A utente, de 68 anos, já esteve "na fila à chuva" e teve de ajudar outros idosos. Nas conversas de bairro, percebeu também que muitos "até não sabiam o que era o passe gratuito", além de não terem um computador a partir do qual pudessem desencadear o processo.
Por isso, Rosalina defende que "há muitas coisas a melhorar", não apenas para os mais velhos, mas também para os beneficiários jovens. "A minha filha teve de faltar quatro horas ao serviço para tratar do passe do meu neto", relata. O processo tem de ser mais bem "explicado e mais viável", realça esta utente, que pede ainda o alargamento da medida a todo o país. Porque "o Sol quando nasce é para todos. Não se pode melhorar muita coisa, mas se melhorar um bocadinho de cada dia, para o futuro já é bom", conclui Rosalina Leocádio.