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Zelensky diz que Rússia encomendou cerca de dois mil drones iranianos

Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia EPA

Os principais alvos desses drones são infraestruturas elétricas.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou esta segunda-feira que a Rússia encomendou "cerca de dois mil 'drones'" iranianos para apoiar a sua campanha de bombardeamentos na Ucrânia, que tem sobretudo como alvos infraestruturas elétricas.

"Segundo os nossos serviços de informações, a Rússia encomendou cerca de dois mil Shaheds iranianos", 'drones' (veículos aéreos não-tripulados) kamikazes, para apoiar a sua invasão da Ucrânia, após vários reveses militares no terreno desde o início de setembro, declarou Zelensky, numa conferência organizada pelo diário israelita Haaretz.

O chefe de Estado ucraniano não precisou se tal número se refere a uma nova encomenda ou ao número total de 'drones' iranianos comprados por Moscovo a Teerão, alguns dos quais foram já utilizados para atingir especialmente infraestruturas energéticas, segundo Kiev.

De acordo com Zelensky, "instrutores iranianos vieram para ensinar os russos a utilizarem esses 'drones'" antes de estes os enviarem para a Ucrânia, acrescentou.

O chefe da administração militar regional de Mykolaiv, Vitaliy Kim, declarou hoje na televisão que as tropas russas utilizaram pela primeira vez 'drones' kamikazes "Shahed-136", de fabrico iraniano, na linha da frente do sul da Ucrânia - e não só contra infraestruturas civis.

"Hoje, ocorreram dois ataques com 'drones' Shahed sobre a aldeia de Shevchenkove - esta é a primeira utilização na linha da frente, e não nos ataques terroristas às infraestruturas civis por parte dos russos", frisou.

"Ao que parece, decidiram que não estavam a conseguir chegar a lado nenhum e começaram a utilizá-los ao longo da linha da frente", disse Kim, em declarações recolhidas pela agência Unian.

Entretanto, o chefe da Direção Principal de Informações do Ministério de Defesa ucraniano, Kyrylo Budanov, afirmou que algumas reservas de mísseis russos estão quase esgotadas, mas que "o terrorismo com o uso de 'Shaheds' pode durar realmente muito tempo".

Numa entrevista ao jornal Ukrainska Pravda, o responsável indicou que os 'drones' de todo o tipo que a Rússia encomendou ainda têm de ser fabricados, precisando que cada lote tem cerca de 300 unidades e que atualmente os russos estão a utilizar o segundo lote.

Acrescentou ainda que, até 22 de outubro, as forças russas utilizaram cerca de 330 "Shahed", dos quais 222 -- aproximadamente 70% - foram derrubados pelas forças ucranianas.

No entanto, "outros, de uma forma ou de outra, atingiram os seus alvos" ou caíram num local próximo, "mas cerca de 30% dos 'drones' alcançaram os seus objetivos", vincou.

No que diz respeito às reservas russas de mísseis, disse que, no caso dos Iskander, restam cerca de 13%; no dos Kalibr-PL e Kalibr-NK, à volta de 43%; e no dos J-101 e J-555, cerca de 45%.

"É muito perigoso ficar abaixo dos 30%", o que se considera já uma reserva de emergência, precisou o responsável dos serviços secretos ucranianos.

Há já algum tempo que a situação em relação aos Iskander é crítica, ao passo que quanto aos Kalibr e J-101 e J-555, os russos "continuam a tentar manter-se de alguma forma dentro das suas normas", acrescentou.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.374 civis mortos e 9.776 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.